Sophie Thatcher brilha neste thriller de ficção científica, que tem ótimas ideias, mas execução nem tanto
![]() |
Arte do filme 'Acompanhante Perfeita': aquele momento em que você percebe que os olhos de sua nova namorada estão estranhamente brancos demais |
Em 2022, o diretor e roteirista Zach Cregger impressionou muita gente (mas não a mim) com seu longa de estreia, Noites Brutais, um trash com complexo de filme sério estrelado por Georgina Campbell. Agora, ele retorna, mas no papel de produtor, em Acompanhante Perfeita, um thriller de ficção científica com toques de terror sobre os perigos das tecnologias emergentes. O filme, dirigido pelo também estreante Drew Hancock, é estrelado por Sophie Thatcher (Boogeyman: Seu Medo é Real) e Jack Quaid (Pânico). Novamente, impressionou muita gente, mas, assim como aconteceu com Noites Brutais, eu não faço parte dessa lista.
Não que Acompanhante Perfeita não tenha seus momentos de brilho. Acredito até que aqueles que tiveram a sorte de não assistir aos trailers ficarão inquietos e surpresos com as reviravoltas que acontecem cerca de vinte minutos após o desconexo Josh (Quaid) levar sua namorada, Iris (Thatcher), para passar um tempo com os amigos em um local descrito como uma pequena cabana na floresta, mas que se revela uma mansão luxuosa, ainda que remota.
PUBLICIDADE
Iris é tudo o que Josh pediu a Deus. É tão linda que parece ter sido esculpida à mão, e está irremediavelmente apaixonada por ele. Ela permite que o rapaz lhe diga o que vestir, quando dormir, quando acordar e quando fazer sexo. E, como dedicação pouca é bobagem, a garota também faz questão de descarregar sozinha as malas pesadas do carro! O único problema é que Iris está preocupada com o fato de alguns amigos de Josh não gostarem dela. Para não entregar spoilers, direi apenas que, poucos minutos após o casal colocar os pés na mansão, Acompanhante Perfeita mergulha em uma espiral de violência sem volta.
![]() |
Josh (Jack Quaid) e Iris (Sophie Thatcher) planejam seu fim de semana romântico no filme 'Acompanhante Perfeita' |
A partir daí, o leque de possibilidades é enorme, mas Hancock, que também assina o roteiro, conduz tudo com o freio de mão puxado. O tema do filme está diretamente relacionado ao sexo, mas as cenas que deveriam ser apimentadas são tão tímidas que poderiam facilmente ser exibidas na Sessão da Tarde. As reviravoltas clamam por uma abordagem sombria, mas o suspense é praticamente inexistente, pois o diretor prioriza a comédia. Como o roteiro não é tão afiado ou engraçado quanto ele pensava ser, o resultado são cenas arrastadas e situações um tanto repetitivas.
Hancock também não é muito feliz ao tentar fazer comentários sobre empoderamento feminino e relacionamentos tóxicos. Mesmo que fosse, o simples fato de jogar as lentes sobre esses temas já explorados à exaustão no cinema de terror seria suficiente para comprometer a experiência e garantir ao filme o selo de mais do mesmo. O elenco de apoio, que inclui Megan Suri (Não Abra!) como a amiga Kat, e Rupert Friend (Canário Negro) como o dono da mansão, Sergey, não ajuda muito.
PUBLICIDADE
Parte da culpa é do roteiro, que parece se esforçar para tornar os personagens desagradáveis. Mas a outra parte é do elenco mesmo, que parece muito pouco à vontade em seus papéis. A situação piora quando Hancock tenta desenvolvê-los, como na cena em que Eli (Harvey Guillén, de Um Lobo Entre Nós) conversa calmamente na floresta com o namorado Patrick (Lukas Gage, de Sorria 2), arruinando um momento que deveria ser tenso e transmitir urgência.
![]() |
Iris (Sophie Thatcher) passeia graciosamente no supermercado no filme 'Acompanhante Perfeita' |
Também não dá para elogiar a performance de Quaid, que, na maior parte do tempo, parece mais irritante do que ameaçador. Mas fico feliz em dizer que Sophie Thatcher é uma agradável exceção à regra, entregando uma protagonista carismática, que praticamente carrega o filme nas costas. Ela brilha desde a primeira cena, em que sua Iris, com a franja cortina e o visual retrô, caminha graciosamente pelos corredores de um supermercado. Isso acontece pouco antes de seu encontro suspeitosamente fofo com Josh e, acredite, a percepção do espectador sobre esse momento mudará bastante conforme o filme avança.
Também é preciso dizer que o diretor não é tão tímido nas cenas de mortes quanto se mostrou nas de sexo. Há momentos frenéticos e sangrentos em Acompanhante Perfeita, especialmente no último ato, quando todas as cartas são colocadas à mesa e o filme se transforma na boa e velha batalha pela sobrevivência que tanto amamos. Algumas pausas para monólogos e mais tentativas toscas de fazer comentários sociais ainda tentam arruinar a diversão, mas, felizmente, o caos consegue falar mais alto.
Isso não torna o filme grandioso, ou sequer um ótimo filme. Seriam necessários muitos ajustes no roteiro, um timing cômico melhor, um elenco mais empenhado e um cineasta sem medo de afundar o pé na lama (Coralie Fargeat, diretora de Vingança e A Substância, é a primeira que me vem à mente) para chegar a esse ponto. Ainda assim, o carisma de Sophie Thatcher e os choques visuais ocasionais pesam bastante na balança, tornando esse romance distorcido — irmão gêmeo de Black Mirror e primo distante de As Esposas de Stepford, Ex Machina e O Exterminador do Futuro — um passatempo assistível.
Nota: 5/10
Título Original: Companion.
Gênero: Ficção científica, romance, comédia, terror.
Produção: 2025.
Lançamento: 2025.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 37 min.
Roteiro: Drew Hancock.
Direção: Drew Hancock.
Elenco: Sophie Thatcher, Jack Quaid, Lukas Gage, Megan Suri, Harvey Guillén, Rupert Friend, Jaboukie Young-White, Matt McCarthy, Marc Menchaca, Woody Fu, Ashley Lambert.