Dois estranhos descobrem que alugaram a mesma casa em 'Noites Brutais', terror B extravagante disfarçado de filme sério dirigido por Zach Cregger
![]() |
Georgina Campbell como Tess no filme 'Noites Brutais', de Zach Cregger. Foto: ©BoulderLight Pictures |
Após ler The Gift of Fear, livro de Gavin de Becker que encoraja as mulheres a confiar em sua intuição quando confrontadas por homens obviamente perigosos, o diretor e roteirista Zach Cregger (Miss Março: A Garota da Capa) sentiu-se inspirado para elaborar o roteiro de um curta-metragem sobre uma mulher que ignora uma série crescente de bandeiras vermelhas. Ele gostou tanto do resultado que decidiu conceituar uma história mais ampla para os personagens. Surgia Barbarian, um terror B extravagante disfarçado de filme cabeça, que chega agora ao Brasil, cortesia do Star+, com o título de Noites Brutais.
O longa-metragem apresenta Georgina Campbell (Rei Arthur: A Lenda da Espada) como Tess, uma pesquisadora de documentários que reserva uma casa no Airbnb, que parece ser a única propriedade intacta entre as ruínas de uma parte esquecida de Detroit. Nós a conhecemos chegando ao local enquanto a chuva, a trilha sonora arrepiante e a escuridão sufocante criam uma atmosfera noturna ameaçadora. Essa impressão não melhora durante o dia, quando podemos ver claramente os cenários exteriores que remetem a O Homem nas Trevas e As Criaturas Atrás das Paredes.
PUBLICIDADE
Tess reservou a casa porque precisa de uma cama quente e uma boa noite de sono antes de encarar uma entrevista de emprego, agendada para a manhã do dia seguinte. É compreensível que ela fique confusa e um pouco irritada quanto descobre que o lugar já está ocupado por outra pessoa, que tem seu próprio comprovante de reserva. O rapaz sonolento que a atende na porta se identifica como Keith (Bill Skarsgård, de It: A Coisa), e ele parece tão confuso quanto ela.
![]() |
Bill Skarsgård como Keith no filme 'Noites Brutais', de Zach Cregger. Foto: ©BoulderLight Pictures |
Keith a convence a ficar na casa até que possam resolver o mal-entendido, pois "há muitos caras maus por aí". Para provar que não é um deles, ele insiste em dormir no sofá enquanto Tess fica segura no quarto trancado. A partir daí, o diretor e roteirista explora diferentes tipos de medo, como das relações pessoais e da violência urbana. E, é claro, do desconhecido, pois como toda boa casa de filmes de terror, a de Noites Brutais também tem seus segredos sombrios.
PUBLICIDADE
O ponto de partida é muito parecido com a do recente Gone in the Night, suspense de Eli Horowitz onde Winona Ryder e Dermot Mulroney também descobrem que a cabana que alugaram já está ocupada por outro casal. Noites Brutais tem outras semelhanças com o filme de Mulroney, como a narrativa fragmentada que salta passagens do tempo para a frente e para trás, concentrando-se em pontos de vista e em personagens diferentes.
![]() |
Georgina Campbell como Tess no filme 'Noites Brutais', de Zach Cregger. Foto: ©BoulderLight Pictures |
Um deles é interpretado por Richard Brake (Offseason), mas não posso revelar nada sobre ele sob risco de spoilers. O outro é interpretado por Justin Long (Arraste-me para o Inferno), que curiosamente estrelou um filme lançado este ano, que também tem semelhanças com Noites Brutais: o divertido House of Darkness, onde interpreta um rapaz desajeitado que ignora uma série de sinais de alerta ao aceitar o convite para entrar na casa de uma bela e misteriosa estranha que conheceu em um bar.
PUBLICIDADE
O elenco talentoso e os mistérios da casa me mantiveram interessado em Noites Brutais por algum tempo. Pelo menos até que percebi que a execução saltitante de Cregger não apenas havia destruído toda a tensão cuidosamente estabelecida no primeiro ato, como também estava desviando o foco do tema principal. Mesmo que o recurso acrescente novas camadas ao filme, ver a história ser praticamente reiniciada foi uma experiência quase tão frustrante quanto a que tive ao assistir Vestido Maldito.
Lá pela marca de uma hora, quando Noites Brutais entrega outra migalha de terror apenas para retornar à estaca zero pela terceira vez, meu interesse pelo mistério desapareceu, até porque a essa altura já existem pistas suficientes para imaginar onde a história vai parar, e a mensagem que o diretor pretende passar. Para minha surpresa, é justamente nesse momento que Cregger para de fingir que seu filme é sério e abraça o absurdo com gosto.
Visualmente, a deliciosa extravagância que se segue remete a Herança Maldita, cult noventista de Stuart Gordon estrelado por Jeffrey Combs e Barbara Crampton. Tonalmente, o ato final está alinhado com outros filmes trash das décadas de 80 e 90, com direito a mortes grotescas e forçações de barra autoconscientes, como policiais que ignoram solenemente o relato das vítimas, e personagens que praticamente tropeçam em pistas que permitem que solucionem um mistério de mais de quarenta anos.
![]() |
Georgina Campbell como Tess no filme 'Noites Brutais', de Zach Cregger. Foto: ©BoulderLight Pictures |
A meia hora final passa longe de entregar o caos de outros filmes recentes que enveredaram pelo mesmo caminho, como Eli, The Seed e Maligno. Ao contrário do anunciado pela campanha promocional, Noites Brutais também não é o filme mais surpreendente dos últimos anos. Ainda assim, mesmo que demore demais para chegar onde precisa, as peças se unem de maneira satisfatória, e essa história tortuosa que nos faz questionar sobre "quem é o verdadeiro monstro?" acaba divertindo.
Nota: 6/10
Título Original: Barbarian.
Gênero: Terror, suspense.
Produção: 2022.
Lançamento: 2022.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 42 min.
Roteiro: Zach Cregger.
Direção: Zach Cregger.
Elenco: Georgina Campbell, Bill Skarsgård, Justin Long, Matthew Patrick Davis, Richard Brake, Kurt Braunohler, Jaymes Butler, Sophie Sörensen, Rachel Fowler, J.R. Esposito, Kate Nichols, Kate Bosworth, Brooke Dillman, Sara Paxton, Will Greenberg, Derek Morse, Trevor Van Uden, Zach Cregger, Devina Vassileva, Kalina Stancheva, Julian Stanishkov.