Crítica | A Mulher no Jardim (The Woman in the Yard, 2025)

Uma família desestruturada precisa lidar com uma ameaça sobrenatural neste filme da Blumhouse que sacrifica o terror em prol da metáfora


A mulher de preto aguarda pacientemente no quintal de Ramona no filme 'A Mulher no Jardim'
A mulher de preto aguarda pacientemente no quintal de Ramona no filme 'A Mulher no Jardim'. Foto: © Universal Pictures


Ramona, a protagonista do filme de terror A Mulher no Jardim, da Blumhouse, está passando pelo pior momento de sua vida. Ela perdeu o marido em um acidente de carro que também a deixou com uma perna quebrada, e agora precisa cuidar sozinha de um filho cada vez mais rebelde e de uma filha que insiste em escrever a letra "R" ao contrário. O fornecimento de energia foi cortado na região rural onde moram, e o cachorro da família, com a ração esgotada, vomita pelo chão porque não gosta de sobras de comida.

A situação de Ramona salta do ruim para o terrível quando uma mulher estranha em um véu e roupas pretas é avistada sentada tranquilamente em uma cadeira no gramado da frente. Sabemos que a mulher de preto tem laços com o além porque ocasionalmente ela conversa com uma voz assustadora e sua sombra se move sozinha. Já a família demora um pouco para perceber, e decide se isolar na casa enquanto a mulher de preto se aproxima gradualmente da propriedade.

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Com essa configuração estabelecida, o roteirista Sam Stefanak (série Tudo Junto Misturado) se concentra no drama familiar e na tentativa de criar expectativa em torno de um aparente segredo da protagonista. O resultado são cerca de 50 minutos de tédio, e quando o tal segredo é finalmente revelado, ele é tão simples que é difícil não se perguntar porque Ramona escondeu a informação por tanto tempo.

Danielle Deadwyler como Ramona no filme de terror 'A Mulher no Jardim'
Danielle Deadwyler como Ramona no filme de terror 'A Mulher no Jardim'. Foto: © Universal Pictures


O elenco faz um trabalho aceitável, mas seus personagens são tristes demais, problemáticos demais, e genéricos demais para chamar a atenção. A Ramona de Danielle Deadwyler (Eu Vi o Brilho da TV), por exemplo, parece uma mistura mal temperada da personagem de Halle Berry em Não Solte! com a de Andra Day em A Libertação — duas obras que não são exatamente exemplos de bons filmes.

Estella Kahiha (A história de vida de A.J. Fikry), que faz a filha Annie, não tem muita coisa para fazer além escrever o "R" ao contrário. Peyton Jackson (Refugiado Americano), que interpreta o filho Taylor, até que ganha algum destaque no segundo ato, mas após o segredo da mãe ser revelado, sofre um downgrade absurdo e perde a relevância no filme. Já Russell Hornsby (Creed II), que interpreta o marido David, aparece em alguns flashbacks, acrescenta pouco ou quase nada à história, e eu nem me lembro mais dele.

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A vilã interpreta por Okwui Okpokwasili (O Exorcista: O Devoto) tem seu charme, e o diretor espanhol Jaume Collet-Serra a aproveita bem na metade inicial. Há uma beleza enervante na maneira como ela a filma se aproximando da casa e em como revela seus poderes sobrenaturais. É claro que essas cenas não chegam nem perto do espetáculo que o diretor entregou em seus trabalhos anteriores, que incluem A Órfã, Águas Rasas e A Casa de Cera. Mas foram esses raros momentos de brilho que me fizeram superar o tédio inicial e manter a esperança de que o terror, enfim, tomaria conta da tela.

Estella Kahiha e Peyton Jackson interpretam os irmãos Annie e Taylor no filme 'A Mulher no Jardim'
Estella Kahiha e Peyton Jackson interpretam os irmãos Annie e Taylor no filme 'A Mulher no Jardim'. Foto: © Universal Pictures


É uma pena que, quando isso finalmente acontece, somos presenteados com uma sequência de cenas bagunçadas que culminam em um desfecho que tenta ser comovente, mas consegue apenas ser anticlimático. Também é uma pena que o roteiro passe a última meia hora complicando ainda mais as coisas, levantando questões sobre a sanidade de Ramona e reduzindo a mulher de preto a outra metáfora clichê, desta vez sobre o luto.

A ideia de que apresentar personagens lutando contra a culpa, a depressão e o trauma é mais interessante do que apresentá-los lutando contra mortos-vivos, lobisomens e psicopatas mascarados ganhou bastante força nos últimos anos. A Mulher no Jardim acaba se destacando, mas apenas como mais uma triste prova do quanto esse pensamento é equivocado.

Nota: 2/10

Título Original: The Woman in the Yard.

Gênero: Drama, terror.

Produção: 2025.

Lançamento: 2025.

País: Estados Unidos da América.

Duração: 1 h 28 min.

Roteiro: Sam Stefanak.

Direção: Jaume Collet-Serra.

Elenco: Danielle Deadwyler, Okwui Okpokwasili, Peyton Jackson, Estella Kahiha, Russell Hornsby.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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