Crítica | A Forma da Água (The Shape of the Water, 2017)

Sally Hawkins vive um romance inesperado no conto de fadas sombrio do diretor Guillermo del Toro


Sally Hawkins e Doug Jones em imagem do filme 'A Forma da Água'

Por Ed Walter

O fato de ser muda ajudou Elisa (Sally Hawkins) a conseguir um emprego de faxineira em uma instalação militar do governo. Afinal, silêncio é algo fundamental em um local onde experimentos científicos altamente secretos fazem parte do cotidiano. É por acidente que Elisa descobre um desses segredos: uma criatura anfíbia mantida em cativeiro. O exército tem intenção de usá-la como arma contra os russos. Ou até mesmo para conseguir vantagem na corrida espacial. Não demora muito para que a solitária Elisa desenvolva afeição pela criatura. E a amizade entre os dois dará início a eventos trágicos.

O filme é o novo trabalho do cineasta mexicano Guillermo del Toro. Aqui ele amadurece algumas idéias que já havia utilizado em filmes como O Labirinto do Fauno e a franquia Hellboy. A criatura anfíbia, aliás, ganha vida através do ator Doug Jones, o mesmo que interpretou Abe Sapien em Hellboy. O diretor flerta com gêneros como o drama, a comédia e até os musicais. Mas a obra é também uma deliciosa homenagem aos filmes B de ficção científica do passado. Não por coincidência, a trama é ambientada na década de 1960, no auge da guerra fria.

Richard Jenkins e Sally Hawkins em imagem do filme 'A Forma da Água'

A primeira coisa que chama a atenção é o visual. É divertido observar a riqueza de detalhes dos apartamentos de Elisa e seu vizinho Giles (Richard Jenkins). E também da residência de vilão interpretado por Michael Shannon. Tudo parece ter sido projetado como uma extensão da personalidade dos três. Já o local onde a heroína trabalha remete aos clássicos do cinema de terror. É sujo e opressivo, com direito a masmorras, máquinas bizarras, experimentos científicos malignos e figuras sombrias se reunindo para decidir o destino da humanidade.

Um bom elenco é fundamental para dar credibilidade a esse mundo fantástico, e os atores cumprem sua tarefa. Mesmo trabalhando apenas com olhares e gestos, Sally Hawkins acha o equilíbrio perfeito para fazer de Eliza uma heroína adorável. Richard Jenkins e Octavia Spencer estão engraçados como Giles e Zelda. Mas o humor não impede que entreguem momentos comoventes.

Michael Jenkins, Sally Hawkins e Olivia Spencer em imagem do filme 'A Forma da Água'

Michael Stuhlbarg adiciona a dose de racionalidade que a história precisa no papel do cientista russo que passa por uma crise de identidade. E é claro, temos Michael Shannon. Ele está espetacular no papel do vilão Richard Strickland. Alguns dos melhores momentos do filme são dele. E seu personagem entra facilmente para a lista dos vilões mais malvados, divertidos e politicamente incorretos dos últimos anos.

Há uma cena ambientada em um bar com a participação do personagem Giles que ficou um pouco deslocada da história. No último ato o roteiro recorre a algumas conveniências que poderiam ter sido evitadas. Mas esses probleminhas não atrapalham a diversão. A Forma da Água é um bom filme. Um conto de fadas sensível, mas que também esconde um lado sombrio. Há violência e sangue. Há nudez e sexo. E nem mesmo aos gatinhos fofinhos é garantido um final feliz.

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O melhor: É um conto sombrio bem produzido e com ótimo elenco.
O pior: O roteiro recorre a algumas conveniências no último ato.

Título original: The Shape of the Water.
Gênero: Drama, romance, fantasia.
País: Estados Unidos, Canadá.
Produção: 2017.
Lançamento: 2017.
Duração: 123 minutos.
Roteiro: Guillermo del Toro e Vanessa Taylor.
Direção: Guillermo del Toro.
Elenco: Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Stuhlbarg, Doug Jones, David Hewlett.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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