Crítica | Boa Noite, Mamãe (Ich seh, Ich seh / Goodnight Mommy, 2014)

Gêmeos suspeitam que sua mãe é uma impostora em 'Boa Noite, Mamãe', o filme de estreia de Severin Fiala e Veronika Franz


A atriz Susanne Wuest em imagem do filme 'Boa Noite, Mamãe', de Severin Fiala e Veronika Franz
A atriz Susanne Wuest em imagem do filme 'Boa Noite, Mamãe', de Severin Fiala e Veronika Franz


Dois irmãos desconfiam que sua mãe foi substituída por uma impostora maligna neste filme de terror psicológico com ecos de O Reflexo do Mal e Violência Gratuita, dirigido pelos austríacos Severin Fiala e Veronika Franz. Boa Noite, Mamãe é o longa-metragem de estreia da dupla, que mais tarde entregaria O Chalé e o segmento 'Die Trud', da antologia de terror Mentes Malignas. Eles também são responsáveis pelo roteiro do filme, estrelado por Susanne Wuest (A Cura) e pelos estreantes Lukas Schwarz e Elias Schwarz.

Boa Noite, Mamãe abre com os gêmeos idênticos Lukas e Elias (os personagens têm o mesmos nomes dos atores) brincando de esconde-esconde no milharal próximo da casa remota e modernista onde vivem com a mãe (Wuest), cujo nome nunca é mencionado. Mãe se submeteu a uma cirurgia estética facial. Seu rosto está enfaixado. Sua personalidade não lembra em nada a da mulher amorosa que os meninos conheceram. Será que os irmãos estão imaginando coisas? Ou as ataduras estão escondendo uma impostora?

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As respostas serão apresentadas no ato final. O público familiarizado com reviravoltas em filmes de terror, porém, provavelmente matará a charada nos minutos iniciais, assim que presenciar o primeiro diálogo entre mãe e os dois filhos. Como Boa Noite, Mamãe foi lançado em 2014, você talvez pense que, na época, esse tipo de plot twist não era tão conhecido assim. Mas era, e me lembro de pelo menos quatro filmes que recorreram a ele, incluindo um sul-coreano de 2003, e seu remake de 2009.

Susanne Wuest, Lukas Schwarz e Elias Schwarz em imagem do filme 'Boa Noite, Mamãe', de Severin Fiala e Veronika Franz
Susanne Wuest, Lukas Schwarz e Elias Schwarz em imagem do filme 'Boa Noite, Mamãe', de Severin Fiala e Veronika Franz


A boa notícia é que, independente do choque que a revelação pode ou não causar, o último ato de Boa Noite, Mamãe consegue ser desconfortável em um nível que beira o perturbador. Eu inclusive me peguei instintivamente cobrindo os olhos durante algumas cenas de violência gráfica. O problema é que a jornada até o último ato exige do espectador uma dose generosa de paciência. Boa Noite, Mamãe tem pouco mais de uma hora e meia, mas seu ritmo é tão lento e cansativo que parece que o filme tem duas horas ou mais.

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Mesmo o espectador acostumado com o desenvolvimento lento dos filmes que formam o "movimento" conhecido como pós-terror perceberá que, na primeira hora, a história de Boa Noite, Mamãe praticamente não sai do lugar. Pelo menos não na superfície, porque subtextos e simbolismos, o filme tem de sobra. Isso o torna melhor? Bem, não para mim. Apenas o torna um filme repleto de subtextos e simbolismos e, ainda assim, dolorosamente arrastado.

Lukas Schwarz e Elias Schwarz em imagem do filme 'Boa Noite, Mamãe', de Severin Fiala e Veronika Franz
Lukas Schwarz e Elias Schwarz em imagem do filme 'Boa Noite, Mamãe', de Severin Fiala e Veronika Franz


A monotonia só é quebrada por duas cenas bizarras que, no final, acabam se revelando apenas pesadelos. A decisão de utilizar uma trilha sonora tão discreta que beira a inexistência parece acertada no começo. Conforme a história avança, é possível perceber que o recurso faz falta, e sua ausência não apenas deixa as situações mais sonolentas do que realmente são, mas também compromete o potencial de suspense do filme. A cena da visita do padre (e, mais tarde, daquele casal estranho da Cruz Vermelha), por exemplo, tinha tudo para render bons momentos de tensão. Do jeito que ficou, ela é apenas enfadonha.

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Boa Noite, Mamãe vale uma espiada pelo visual bem cuidado e pela atmosfera sombria. O elenco comprometido e o final perturbador também contam pontos a seu favor. Quem tiver tempo e paciência para explorar suas camadas, encontrará diversos temas para discutir. Se esse for o seu caso, é possível que sua experiência com o filme seja melhor que a minha.

Nota: 4.8/10

Título Original: Ich seh, Ich seh / Goodnight Mommy.
Gênero: Suspense, mistério, terror.
Produção: 2014.
Lançamento: 2014.
País: Áustria.
Duração: 1 h 39 min.
Roteiro: Severin Fiala, Veronika Franz.
Direção: Severin Fiala, Veronika Franz.
Elenco: Lukas Schwarz, Elias Schwarz, Susanne Wuest, Hans Escher, Elfriede Schatz, Karl Purker, Georg Deliovsky, Christian Steindl, Christian Schatz, Erwin Schmalzbauer.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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