Crítica | O Ritual do Livro Vermelho (The Red Book Ritual, 2022)

Jovens pagam preço alto por brincar com o sobrenatural em 'O Ritual do Livro Vermelho', antologia de terror produzida pela Black Mandala


Valeria San Martin, Marlene Pedersen Chauviere e Agustin Olcese como Bea, Sophia e Justin no filme 'A Maldição do Livro Vermelho'
Valeria San Martin, Marlene Pedersen Chauviere e Agustin Olcese como Bea, Sophia e Justin no filme 'A Maldição do Livro Vermelho'


Três amigos pagam um preço alto por brincar com o sobrenatural em O Ritual do Livro Vermelho, o novo filme produzido pela empresa neozelandesa Black Mandala. O longa-metragem estrelado por Valeria San Martin (Nightmare Radio: The Night Stalker), Agustin Olcese (Oro Negro) e Marlene Pedersen Chauviere (minissérie Desaparecimento na Noruega) é uma antologia de terror, com cinco contos unidos por uma história central. A configuração é semelhante à de O Mal Está ao Seu Lado (2020). A título de curiosidade, a Black Mandala é produtora dos dois filmes.

Martin interpreta Bea, uma jovem que se muda com a família para uma casa antiga que, dizem as más línguas, pertenceu a uma bruxa. A mãe de Bea faleceu, seu pai passa as noites trabalhando e a deixa sozinha cuidando do irmão pequeno. Numa dessas noites, Bea convida os amigos Justin (Olcese) e Sophia (Chauviere) para lhe fazer companhia, e eles não demoram para convencê-la a realizar o Ritual do Livro Vermelho, uma brincadeira assustadora com regras semelhantes às do tabuleiro ouija.

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Conforme o ritual avança, os personagens contam histórias de terror que se tornam os segmentos do filme. No intervalo de cada um, a história central é retomada e, gradualmente, descobrimos que o Ritual do Livro Vermelho é mais perigoso do que os amigos imaginaram. No fim das contas, a história desses jovens curiosos não tem grandes atrativos, mas os segmentos que ela origina podem render uma certa diversão.

David Breen como Thomas no segmento 'Stray' da antologia de terror 'A Maldição do Livro Vermelho'
David Breen como Thomas no segmento 'Stray' da antologia de terror 'A Maldição do Livro Vermelho'


Dean Law dirige o primeiro, 'Stray', sobre um homem que retorna de uma guerra não especificada para uma esposa que se recusa a conversar e a usar roupas. A presença de um gato infernal e as cenas onde a esposa aparece fazendo barulhos medonhos, com o rosto coberto de sangue, levam o segmento para um caminho assustador. O final não explica muita coisa. Na verdade, ele não explica nada, mas a atmosfera sombria, os efeitos práticos sangrentos e a capacidade do diretor em provocar arrepios ocasionais fazem o conto valer a pena.

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Em 'Little One', acompanhamos um casal que acaba de receber uma notícia devastadora, e está dirigindo de volta para casa em uma estrada escura. Eles avistam uma criança na pista e resolvem parar para prestar socorro. Os diretores Logan Fields e Chris Beyrooty extraem bastante suspense da situação, principalmente quando um terceiro personagem entra em cena. Como no segmento anterior, 'Little One' encerra sem explicações. Só que, dessa vez, o final é tão abrupto que compromete a história.

Valeria San Martin como Bea no filme 'A Maldição do Livro Vermelho'
Valeria San Martin como Bea no filme 'A Maldição do Livro Vermelho'


A ausência de um final concreto também prejudica o terceiro segmento, dirigido por Jiwon Moon. Só que 'Nose, Nose, Nose, Eyes' tem a vantagem de ser perturbador e, mesmo sugerindo mais do que mostra, acredito que fará parte do público cobrir os olhos em algumas cenas. 'Nose, Nose, Nose, Eyes' acompanha uma mãe e sua filha pequena conversando na sala (a dublagem das duas em inglês ficou horrível), enquanto o pai está trancado no quarto. O que acontece depois tem muito do j-horror, especialmente de Audição, de Takashi Miike.

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O penúltimo segmento, "Release", de Daniel J. Phillips, é uma história de fantasmas ambientada em um hospital. Segue uma médica que se recusa a desligar os aparelhos de suporte de vida do irmão, que está em coma irreversível. Em uma tentativa desesperada de ajudá-lo, ela sai em busca de um medicamento em uma ala abandonada do hospital, mas descobre que existe uma razão assustadora para o lugar ter sido fechado. "Release" entrega alguns sustos e uma certa tensão. Também se destaca dos primeiros segmentos por apresentar uma história que faz sentido dentro de sua proposta, além de um final carregado de uma certa emoção.

Molly Casey como Ella no segmento 'The Sermon' da antologia de terror 'A Maldição do Livro Vermelho'
Molly Casey como Ella no segmento 'The Sermon' da antologia de terror 'A Maldição do Livro Vermelho'


O segmento final, 'The Sermon', de Dean Puckett, nos leva para uma comunidade rural altamente religiosa, cujos membros não enxergam com bons olhos aqueles que se afastam dos ensinamentos bíblicos. Uma garota está determinada a lutar contra isso. Essa é uma história de vingança, com uma vibe que remete a Colheita Maldita e Benção Mortal. 'The Sermon' tem poucos diálogos, mas é bastante atmosférico, conta com um elenco empenhado, e um final que provavelmente pegará muita gente de surpresa. Entre os altos e baixos da antologia, este foi meu conto favorito.

Nota: 5/10

Título Original: The Red Book Ritual.
Gênero: Terror.
Produção: 2022.
Lançamento: 2022.
País: Nova Zelândia, Argentina.
Duração: 1 h 24 min.
Roteiro: Ariel Luque, Daniel J. Phillips.
Direção: Chris Beyrooty, Dean Law, Ariel Luque, Jiwon Moon, Daniel J. Phillips, Dean Puckett, Nicolás Onetti (diretor criativo)
Elenco: Valeria San Martin, Agustin Olcese, Marlene Pedersen Chauviere, David Breen, Molly Casey, Bruno Giacobbe, Agustin Bogliano, Marcos Bogliano, Martín Canalicchio, Ines Corengia, Pablo Vilela.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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