Crítica | Canção de Ninar (Lullaby, 2022)

Oona Chaplin e Ramón Rodríguez interpretam casal assombrado por Lilith em 'Canção de Ninar', o novo filme do diretor de 'Annabelle', John R. Leonetti


Imagem do filme 'Canção de Ninar', de John R. Leonetti. Foto: ©Alcon Entertainment
Imagem do filme 'Canção de Ninar', de John R. Leonetti. Foto: ©Alcon Entertainment


Figura mitológica encontrada em muitas culturas, Lilith é descrita por algumas correntes de pensamento como a primeira mulher do personagem bíblico Adão. No folclore popular hebreu medieval, ela abandonou o Jardim do Éden devido a uma disputa sobre igualdade dos sexos, passando depois a ser descrita como um demônio. Alguns até acreditam que ela assumiu a forma de serpente e influenciou a segunda mulher de Adão, Eva, a provar o fruto proibido.

Com uma mitologia tão curiosa, não é surpresa que essa figura, que muitos consideram a primeira feminista da história, migrasse para livros, games, séries e filmes. Principalmente os de terror, onde é geralmente associada ao folclore do vampiro ou da succubus, demônio com aparência feminina que invade o sonho dos homens a fim de ter uma relação sexual com eles para lhes roubar a energia vital. A boa notícia é que Lilith voltou em um novo filme de terror chamado Canção de Ninar. A má notícia é que embora tenha bastante potencial, a execução deste projeto deixa muito a desejar.

PUBLICIDADE

Oona Chaplin (série Game of Thrones) interpreta Rachel, uma chef renomada que tenta manter em ordem seu restaurante que nunca vemos, enquanto cuida do filho recém-nascido que não para de chorar. Seu marido, o artista John (Ramón Rodríguez, de As Panteras), ajuda como pode, mas está um pouco ocupado com uma inauguração de galeria que, assim como o restaurante, nunca é mostrada. Não é surpresa que Rachel fique feliz ao perceber que seu bebê se acalma no momento em que começa a cantar uma canção de ninar encontrada em um livro misterioso, descoberto entre seus pertences.

Ramón Rodríguez e Oona Chaplin como John e Rachel no filme 'Canção de Ninar', de John R. Leonetti. Foto: ©Alcon Entertainment
Ramón Rodríguez e Oona Chaplin como John e Rachel no filme 'Canção de Ninar', de John R. Leonetti. Foto: ©Alcon Entertainment


Se você assiste filmes de terror, provavelmente já sabe que livros misteriosos costumam invocar coisas do além. Neste caso, invoca bebês mutantes, uma bruxa e a própria Lilith (Kira Guloien, da série The Good Doctor), que quer levar o bebê chorão de Rachel para viver com ela em outro mundo. A partir daí, Canção de Ninar é inundado por uma enxurrada de clichês ruins de filmes do gênero. Incluindo jump scares telegrafados, personagens tomando decisões sem sentido, e aparições fantasmagóricas inofensivas. Afinal, Lilith precisa cumprir uma espécie de ritual antes de atacar, o que basicamente significa que os personagens só correrão perigo real nos minutos finais.

PUBLICIDADE

O fato do casal de protagonistas não ter a menor química não ajuda a tornar a jornada agradável. E eu nem sei se dá para culpar os atores, pois os diálogos são terríveis. Também não dá para elogiar a direção, que falha espetacularmente na criação de momentos de suspense e tensão. Mas não vou fingir que estou surpreso, pois o filme é dirigido por John R. Leonetti, o realizador de Annabelle, O Perigo Bate à Porta e 7 Desejos. Se você assistiu a algum desses filmes, sabe que Leonetti costuma dirigir no piloto automático. Não é diferente em Canção de Ninar.

Kira Guloien como Lilith no filme 'Canção de Ninar', de John R. Leonetti. Foto: ©Alcon Entertainment
Kira Guloien como Lilith no filme 'Canção de Ninar', de John R. Leonetti. Foto: ©Alcon Entertainment


Isso é realmente uma pena, pois o filme tem alguns fragmentos de ideias interessantes. Acredito até que, com um pouco mais de cuidado, essa mitologia poderia ser expandida para, quem sabe, dar origem a uma franquia. Canção de Ninar também tem bizarrices que poderiam render momentos arrepiantes nas mãos de um diretor mais ousado, ou momentos toscos gloriosamente hilários nas mãos de um diretor que não levasse tudo tão a sério. As aparições dos filhos de Lilith, por exemplo, parecem implorar por uma abordagem mais trash. Infelizmente, nas mãos de Leonetti, morno é o máximo que Canção de Ninar consegue ser.

Nota: 4/10

Título Original: Lullaby.
Gênero: Terror.
Produção: 2022.
Lançamento: 2022.
País: Estados Unidos da América, Canadá.
Duração: 1 h 29 min.
Roteiro: Alex Greenfield, Ben Powell.
Direção: John R. Leonetti.
Elenco: Oona Chaplin, Ramón Rodríguez, Liane Balaban, Mary Ann Stevens, Julie Khaner, Alex Karzis, Spencer Macpherson, Kira Guloien, R Austin Ball, Sasha Rajamani, Moni Ogunsuyi, Matthew Krist, Adam Bernett, Hayden Finkelshtain, Hudson Schnurr, Parker Schnurr, Otto McCreight, Matteo McCreight, Brian McCaig, Mark Reinhardt, Aaron Rogers.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

1 Comentários

Antes de serem publicados, os comentários serão revisados.

  1. Concorde com quase todas suas observações, mas mesmo assim, a partir de 20 minutos do filme, fiquei tenso, apreensivo... e o bebe chorando sem parar só aumenta mais ainda a tensão. Infelizmente, nos últimos 30 minutos, perdem completamente a mão com atitudes incoerentes, insensatas. Uma pena mesmo.

    ResponderExcluir
Postagem Anterior Próxima Postagem