Crítica | O Convento (Consecration, 2023)

Terror sobrenatural estrelado por Jena Malone, 'O Convento' marca o retorno do diretor de 'Plataforma do Medo', Christopher Smith


Eilidh Fisher e Jena Malone como Meg e Grace no filme 'O Convento', de Christopher Smith
Eilidh Fisher e Jena Malone como Meg e Grace no filme 'O Convento', de Christopher Smith


Christopher Smith estreou na direção de longas-metragens em 2004 com Plataforma do Medo, filme de terror claustrofóbico sobre uma mulher que descobre segredos assustadores após ficar presa em uma estação de metrô em Londres. Em 2009 ele entregou Triângulo do Medo, onde um grupo de amigos passa apuros em um navio fantasma. Em 2010, dirigiu Morte Negra, sobre um jovem monge que investiga relatos de pessoas que voltaram à vida em uma aldeia durante a época do primeiro surto de peste bubônica na Inglaterra.

Embora esses filmes não sejam obras-primas, eles mostraram que Smith domina bem a arte de criar ambientes sombrios e histórias repletas de mistério, suspense e tensão, que prendem a atenção do espectador até o final. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito de seu novo trabalho, um filme desajeitado e cansativo chamado Consecration, que deve chegar ao Brasil com o título de O Convento.

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Escrito pelo próprio Smith em parceria com a produtora Laurie Cook (O Ritual: Presença Maligna), o longa-metragem apresenta Jena Malone (As Ruínas) como Grace, uma oftalmologista britânica que viaja para um convento à beira-mar na Escócia, após receber a notícia de que seu irmão, um padre, morreu lá sob circunstâncias misteriosas. O policial Harris (Thoren Ferguson, de Matriarch) acredita que o rapaz matou outro padre e se suicidou. A Madre Superiora (Janet Suzman, da série Os Assassinatos de Midsomer) acredita que ele estava possuído por um demônio.

A atriz Jena Malone como Grace no filme 'O Convento', de Christopher Smith
A atriz Jena Malone como Grace no filme 'O Convento', de Christopher Smith


Grace, claro, não acredita em nada disso, e resolve investigar por conta própria. Só que nem suas investigações e nem as do policial Harris fazem muita diferença na história, pois as respostas para todos os mistérios são entregues praticamente de bandeja por flashbacks entrelaçados sem muita habilidade. O uso excessivo desse recurso deixa a narrativa monótona, um problema que talvez pudesse ser amenizado se Smith e sua co-roteirista estabelecessem uma ameaça mais cedo.

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Visões supostamente sobrenaturais aparecem na tela ocasionalmente, mas o diretor conduz a ação de maneira tão morna que esses momentos não causam impacto. Isso é uma pena, pois existem situações em O Convento com potencial para causar arrepios. O flashback que mostra um crime cometido durante a infância de Grace, por exemplo, não teria dificuldade de saltar para o nível de perturbador se fosse melhor trabalhado.

Danny Huston como padre Romero no filme 'O Convento', de Christopher Smith
Danny Huston como padre Romero no filme 'O Convento', de Christopher Smith


Danny Huston (Invasão ao Serviço Secreto) interpreta o padre Romero, enviado pelo Vaticano para reconsagrar o terreno do convento, que data do século XII. O ator tem uma presença forte, mas o roteiro não lhe oferece muito material para se destacar. Basicamente, Romero está no filme apenas para explicar as coisas para Grace, que por sua vez se revela uma personagem bem menos interessante do que o início promissor sugeria.

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A excêntrica Madre Superiora de Janet Suzman também começa chamando a atenção, mas vai recebendo cada vez menos atenção do roteiro, até ser simplesmente ignorada. Os melhores momentos de O Convento acabam sendo as cenas com a irmã Meg (Eilidh Fisher, da série Chame a Parteira), uma jovem freira que gosta de assustar visitantes. Confesso até que fiquei mais interessado em saber mais sobre suas dúvidas com relação à sua fé do que sobre os próprios mistérios do filme.

Janet Suzman como Madre Superiora no filme 'O Convento', de Christopher Smith


Falando em Meg e suas amigas, várias sequências parecem ter sido tiradas diretamente de Os Demônios, cult de 1971 do diretor Ken Russell, sobre um padre acusado de bruxaria por uma freira na França católica do século XVII. O problema é que quando você incentiva o espectador a fazer comparações com uma obra tão polêmica e não entrega um pingo da ousadia de sua fonte de inspiração, seu filme arrisca parecer mais tímido do que provavelmente seria caso se sustentasse sozinho.

Na última meia hora, quando as peças do quebra-cabeça se encaixam e a ameaça é finalmente revelada, o diretor tem a oportunidade de se redimir abraçando elementos de filmes B para criar um confronto caótico e divertido. Ao invés disso, ele pisa ainda mais no freio e O Convento se arrasta para um final que, como o resto do filme, não é tão emocionante ou surpreendente assim.

Nota: 3.6/10

Título Original: Consecration.
Gênero: Terror, suspense.
Produção: 2023.
Lançamento: 2023.
País: Reino Unido, Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 31 min.
Roteiro: Christopher Smith, Laurie Cook.
Direção: Christopher Smith.
Elenco: Jena Malone, Danny Huston, Ian Pirie, Janet Suzman, Eilidh Fisher, Steffan Cennydd, Thoren Ferguson, Alexandra Lewis, Victoria Donovan, Angela White, Jolade Obasola, Charlotte Palmer, David Boyle, Emma Hixson, Marilyn O'Brien, Kit Rakusen, Daisy Allen, Rachael Joanne Brown, Michael Brophy.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

1 Comentários

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  1. Em certos momentos (especialmente no começo), o filme é tão "arrastado" que chega a dar sono.

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