Retro Review | Sexta-Feira 13 – Parte 6: Jason Vive (Jason Lives: Friday the 13th Part VI, 1986)

Jason retorna dos mortos no capítulo mais divertido de 'Sexta-Feira 13'


Jason agora é um morto-vivo que alcança suas vítimas sem precisar correr


Sexta-Feira 13 – Parte 5 desagradou boa parte dos fãs ao apresentar um imitador no lugar de Jason Voorhees, e a franquia corria o risco de perder o apelo. A Paramount, então, decidiu colocar ordem na casa e contratou o diretor Tom McLoughlin (Numa Noite Escura) para resgatar o vilão original e reinventar a série. O resultado foi Sexta-Feira 13 – Parte 6: Jason Vive, que não apenas trouxe Jason de volta, como definiu de vez sua imagem: a de um morto-vivo implacável, indestrutível e grotescamente carismático.

O prólogo desse novo filme — o segundo da franquia realmente ambientado em uma sexta-feira 13 — já mostra a ousadia de McLoughlin. Na tentativa de encerrar o ciclo de Jason, o atormentado Tommy Jarvis (agora interpretado por Thom Mathews, de A Volta dos Mortos-Vivos) decide abrir o caixão do assassino da máscara de hóquei e destruir seu corpo. Por ironia cósmica, um raio atinge o cadáver e traz Jason de volta dos mortos.


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O clima gótico da cena é impressionante, com direito a estradas enevoadas, cemitério em ruínas, relâmpagos e tempestade. O aceno explícito ao Frankenstein clássico e, como admitiu o próprio diretor, aos filmes da produtora britânica Hammer, é seguido por uma abertura que também presta homenagem, agora a James Bond. A partir dali, fica claro que o realismo nunca mais voltaria a ser prioridade: Jason era agora um zumbi, e a mitologia da série passava a flertar abertamente com o sobrenatural.

Os monitores ainda não sabem que o acampamento Forest Green é, na verdade, Crystal Lake


Esse é o Jason definitivo. Mais alto, mais forte e à prova de balas, o morto-vivo turbinado também não precisa mais correr: basta caminhar que invariavelmente alcança suas vítimas. Essa mudança, que poderia parecer simples, redefine a presença do personagem na tela. Ele já não é apenas um homem mascarado, é a própria personificação da morte, inevitável e invencível. O fato de McLoughlin abraçar esse conceito dá ao filme uma aura quase mitológica, que se tornaria o molde para todas as aparições posteriores do vilão.

Outro ponto positivo é a condução dos personagens. Se na Parte 5 Tommy Jarvis parecia relegado ao papel de espectador, aqui ele finalmente encontra relevância. Mathews confere energia e determinação ao personagem, tornando-o um protagonista à altura do antagonista. O elenco de apoio também funciona melhor do que o habitual: dos policiais aos monitores do acampamento, há um esforço claro em dar carisma aos coadjuvantes, tornando suas mortes mais impactantes. Essa construção contribui para que o espectador se envolva, em vez de apenas esperar pelo próximo assassinato.


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E os momentos icônicos se sucedem. Após “conscientizar” dois jovens inquietos sobre os perigos do sexo antes do casamento, Jason emerge de um veículo em chamas, em meio à fumaça, parecendo uma pintura feita para eternizar sua figura monstruosa. A batalha final no lago e a imagem do vilão acorrentado no fundo de Crystal Lake cristalizam uma das cenas mais famosas da saga. Essa capacidade de criar quadros memoráveis é um mérito inegável do filme, que pela primeira vez mostra consciência estética.

Jennifer Cooke como Megan em 'Sexta-Feira 13 – Parte 6: Jason Vive'
Megan (Jennifer Cooke) descobre porque Crystal Lake é chamado de "Acampamento Sangrento" em 'Sexta-Feira 13 – Parte 6


Claro que nem tudo funciona. A famosa sequência em que Jason massacra os funcionários de uma empresa que foram até a floresta para uma batalha de paintball é cartunesca demais, destoando do restante do filme. A cena chega a flertar com o pastelão, quebrando o clima de humor negro que vinha sendo construído. Ainda assim, há um hit kill triplo que equilibra as coisas, lembrando o espectador de que McLoughlin estava interessado em inventar novas formas de diversão visual.

É uma pena que o diretor tenha decidido amenizar a violência dessas cenas. Aliás, quase todas as mortes do filme são tímidas demais. Jason Vive também é o primeiro (e único) filme da franquia a não apresentar absolutamente nenhuma nudez, mesmo durante uma cena de sexo. Há inclusive relatos de que os produtores chegaram a temer que o filme recebesse uma classificação PG-13 da MPAA e sugeriram que o diretor pesasse um pouco mais a mão nas cenas de violência.

McLoughlin parece ter preferido apostar em ritmo, iconografia e atmosfera, sacrificando alguns dos ingredientes clássicos. Jason mata de formas tão diferentes que o impacto não vem da brutalidade explícita, mas da engenhosidade das situações. Mas, para quem acompanha a franquia pelo pacote completo — sangue, sustos e corpos sem roupa —, um filme que joga em “modo seguro” pode soar como uma traição.

Thom Mathews como Tommy Jarvis em 'Sexta-Feira 13 – Parte 6: Jason Vive'
Tommy Jarvis (Thom Mathews) se prepara para o confronto final com Jason em 'Sexta-Feira 13 – Parte 6'


Sexta-Feira 13 – Parte 6: Jason Vive não supera o equilíbrio sangrento da Parte 4, mas é, disparado, o capítulo mais criativo e consciente de seu próprio absurdo. Transformar Jason em uma espécie de entidade sobrenatural foi uma jogada ousada que pagou dividendos, garantindo à franquia uma sobrevida que talvez não tivesse acontecido de outra forma. É um filme que entende seu vilão como mito, cria imagens inesquecíveis e, acima de tudo, diverte do começo ao fim. Jason, de fato, vive.


Nota: 7/10


Título Original: Jason Lives: Friday the 13th Part VI.

Título Nacional: Sexta-Feira 13 - Parte 6: Jason Vive.

Gênero: Terror.

Produção: 1986.

Lançamento: 1986.

País: Estados Unidos da América.

Duração: 1 h 26 min.

Roteiro: Tom McLoughlin.

Direção: Tom McLoughlin.

Elenco: Thom Mathews, Jennifer Cooke, David Kagen, Kerry Noonan, Renée Jones, Tom Fridley, C.J. Graham, Darcy DeMoss, Vincent Guastaferro, Tony Goldwyn, Nancy McLoughlin, Ron Palillo, Alan Blumenfeld, Matthew Faison, Ann Ryerson, Whitney Rydbeck, Courtney Vickery, Bob Larkin, Michael Swan, Mike Nomad, Wallace Merck, Roger Rose, Cindy and Jason, Thomas Nowell, Justin Nowell, Sheri Levinsky, Temi Epstein, Taras O'Har.


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Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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