Crítica | A Órfã (Orphan, 2009)

Vera Farmiga e Peter Sarsgaard interpretam casal que adota menina infernal em 'A Órfã', do diretor Jaume Collet-Serra


A atriz Isabelle Fuhrman como Esther no filme 'A Órfã', de Jaume Collet-Serra
A atriz Isabelle Fuhrman como Esther no filme 'A Órfã', de Jaume Collet-Serra | Foto: Rafy - © 2009 Dark Castle Holdings, LLC.


Antes de encarar assombrações como a sensitiva Lorraine Warren de Invocação do Mal, a atriz Vera Farmiga interpretou uma mãe lutando para salvar a família de uma ameaça que ela própria trouxe para dentro de casa. E não é uma ameaça qualquer, mas uma tão marcante que saltaria muito rapidamente de uma ilustre desconhecida para o posto de uma das crianças malvadas mais memoráveis do cinema de terror, ao lado de figuras como Rhoda Penmark, de Tara Maldita (1956), Damien, de A Profecia (1976), Gage Creed, de Cemitério Maldito (1989), e aquela molecada assustadora da franquia Colheita Maldita.

Terceiro longa-metragem do diretor espanhol Jaume Collet-Serra, mesmo realizador de A Casa de Cera (2005) e Água Rasas (2016), A Órfã abre com uma cena forte, que rapidamente estabelece um vínculo emocional entre o espectador e a protagonista, uma ex-professora de música de semblante ao mesmo tempo triste e otimista chamada Kate Coleman (Farmiga). Nossa heroína vive em uma região gelada e um pouco afastada da cidade, na companhia do marido John (Peter Sarsgaard, de A Chave Mestra) e dos filhos pequenos, Daniel (Jimmy Bennett, de O Garoto do Alabama) e Max (Aryana Engineer, de Resident Evil 5: Retribuição).

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Kate e John estão tentando reconstruir seu casamento conturbado após a perda de seu bebê. Eles visitam a Casa de Meninas de Santa Mariana na intenção de adotar uma criança, e rapidamente se apaixonam por Esther (Isabelle Fuhrman, de Por um Corredor Escuro), uma menina bem-educada de nove anos, cujo talento artístico salta aos olhos. A pequena Max recebe a nova irmã de braços abertos. Mesmo com Daniel sendo hostil com ela, tudo parece indicar que formarão uma família feliz. Pelo menos até que Kate comece a desconfiar que há algo errado com Esther.

Imagem do filme 'A Órfã', de Jaume Collet-Serra


O que começa como um drama familiar inocente, gradualmente se transforma em um suspense psicológico pesado. O diretor desenvolve a história recorrendo a um dispositivo clássico do gênero: a heroína que sabe (ou acredita saber) a verdade e insiste nela, mesmo que todos estejam convencidos de que está enlouquecendo. Torço fortemente o nariz quando vejo essa configuração em um filme de terror moderno. Mas ela funciona muito bem em A Órfã, que parece buscar inspiração em filmes de suspense psicológico do passado, como Atração Fatal (1987) e A Mão que Balança o Berço (1992).

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O fato do filme ter duas horas de duração pesa um pouco na experiência. Mas também dá ao diretor tempo para apresentar e explorar as qualidades e falhas de caráter dos personagens de forma natural, enquanto entrega alguns sustos e violência gráfica, e discute sobre medos contemporâneos muito reais. O elenco entrega performances convincentes, com destaque para Farmiga e para a carismática Aryana Engineer, que está adorável no papel de Max. Mas quem rouba o show é mesmo Isabelle Fuhrman.

A atriz Vera Farmiga como Kate no filme 'A Órfã', de Jaume Collet-Serra
A atriz Vera Farmiga como Kate no filme 'A Órfã', de Jaume Collet-Serra | Foto: Rafy - © 2009 Dark Castle Holdings, LLC.


O roteiro original descrevia a garotinha Esther como tendo pele clara, características delicadas e cabelos loiros platinados. A atriz mirim não se encaixava nessa descrição, mas os cineastas ficaram tão impressionados com suas audições que lhe deram o papel principal. A performance docemente assustadora de Fuhrman lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Fright Meter Award 2009.

O último ato de A Órfã é marcado por uma revelação chocante, que não apenas explica o comportamento de Esther, como também faz com que a sensação de ameaça atinja níveis inacreditáveis. O diretor adota um ritmo frenético, abraça elementos fortes de terror, e entrega suspense e tensão na medida certa. Um confronto final memorável fecha com chave de ouro este filme de terror acima da média.

Nota: 8/10

Título Original: Orphan.
Gênero: Terror.
Produção: 2009.
Lançamento: 2009.
País: Estados Unidos da América, Canadá, Alemanha, França.
Duração: 2 h 3 min.
História: Alex Mace.
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick.
Direção: Jaume Collet-Serra.
Elenco: Vera Farmiga, Peter Sarsgaard, Isabelle Fuhrman, CCH Pounder, Jimmy Bennett, Margo Martindale, Karel Roden, Aryana Engineer, Rosemary Dunsmore, Jamie Young, Lorry Ayers, Brendan Wall, Genelle Williams, Mustafa Abdelkarim, Landon Norris.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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