Crítica | Bird Box: Barcelona (2023)

Abrir os olhos pode ser fatal em 'Bird Box: Barcelona', spin-off dirigido por David e Àlex Pastor e estrelado por Mario Casas


Gonzalo de Castro, Georgina Campbell, Mario Casas e Naila Schuberth como Roberto, Claire, Sebastián e Sofia no filme 'Bird Box: Barcelona', de David Pastor e Àlex Pastor. Foto: Andrea Remini/Netflix - © 2022 Netflix, Inc.
Gonzalo de Castro, Georgina Campbell, Mario Casas e Naila Schuberth como Roberto, Claire, Sebastián e Sofia no filme 'Bird Box: Barcelona', de David Pastor e Àlex Pastor. Foto: Andrea Remini/Netflix - © 2022 Netflix, Inc.


Publicado pela primeira vez em 2014, o romance pós-apocalíptico Caixa de Pássaros, de Josh Malerman, apresenta uma misteriosa presença que assola o planeta, levando à loucura e à morte aqueles que a veem. Neste mundo tomado pela insanidade, onde abrir os olhos pode ser fatal, uma mãe e seus dois filhos fogem em um barco a remo na esperança de encontrar um lugar distante do surto que matou todos ao seu redor.

Em 2018, a Netflix lançou uma adaptação da obra literária, Bird Box, dirigido por Susanne Bier e estrelado por Sandra Bullock, que se tornou um fenômeno no serviço de streaming. Remando contra a maré, não consegui gostar do filme, que me pareceu uma versão desinteressante do ótimo Um Lugar Silencioso. Infelizmente, também não posso dizer que gostei de Bird Box: Barcelona, o spin-off espanhol lançado esta semana com a promessa de expandir a história do original.

PUBLICIDADE

O novo Bird Box tem uma estrutura semelhante à do filme de 2018, incluindo idas e vindas entre passado e presente. Só que agora acompanhamos o jovem pai Sebastián (Mario Casas, de Remédio Amargo) e sua filha pré-adolescente, Anna (Alejandra Howard, de O Páramo), em uma jornada de sobrevivência na paisagem urbana destruída de Barcelona. Conhecemos os dois depois que as criaturas chegaram e levaram à morte todos os que se atreveram a olhar. Ou quase todos, como descobriremos mais tarde.

Imagem do filme 'Bird Box: Barcelona', de David Pastor e Àlex Pastor. Foto: © 2022 Netflix, Inc.
Imagem do filme 'Bird Box: Barcelona', de David Pastor e Àlex Pastor. Foto: © 2022 Netflix, Inc.


Bird Box: Barcelona aborda temas como trauma, luto e religiosidade. O roteiro de David e Àlex Pastor (A Casa), que também dirigem, cumpre a promessa de expandir o universo do original, apresentando teorias da física quântica que tentam explicar o comportamento das criaturas invisíveis. Somos apresentados até mesmo a um estudo científico que tenta entender como a visão das criaturas afeta o comportamento humano, mas o roteiro toma o cuidado de não colocar as explicações como incontestáveis.

PUBLICIDADE

Os diretores entregam um visual aceitável e conseguem orquestrar algumas cenas relativamente divertidas, com destaque para o flashback que revela o início do caos. No entanto, eles encontram uma dificuldade enorme para criar momentos de tensão, o que praticamente destrói as cenas de terror. Entendo que não é fácil trabalhar com uma ameaça tão subjetiva, mas também me lembro que o filme original, mesmo não sendo uma maravilha, conseguiu criar pelo menos três cenas impactantes explorando o mesmo tema.

Imagem do filme 'Bird Box: Barcelona', de David Pastor e Àlex Pastor. Foto: © 2022 Netflix, Inc.
Imagem do filme 'Bird Box: Barcelona', de David Pastor e Àlex Pastor. Foto: © 2022 Netflix, Inc.


Conforme Sebastián e Anna formam uma aliança incômoda com outros sobreviventes desajeitados e seguem em direção a um porto seguro, uma ameaça mais sinistra do que as criaturas invisíveis começa a tomar forma. Costumo torcer fortemente o nariz quando qualquer filme de terror tenta me convencer de que seus monstros não são a ameaça principal, pois isso geralmente significa que o roteiro abraçará o horroroso clichê do “os humanos são os piores monstros”. Inevitavelmente, isso acontece em Bird Box: Barcelona. Mas confesso que, desta vez, gostei da maneira como a nova ameaça é estabelecida.

PUBLICIDADE

Para não entrar no território dos spoilers, direi apenas que a revelação vem por um plot twist que muda tudo que pensávamos saber sobre a história. Isso coloca o filme momentaneamente em um terreno bem próximo de Influencer, um suspense surpreendente e divertido lançado este ano, que também puxa nosso tapete já no primeiro ato. Há inclusive algumas mortes inesperadas nos minutos iniciais, e a introdução de novos personagens convida o espectador a tentar adivinhar quem, de fato, é o protagonista do filme.

Georgina Campbell e Naila Schuberth como Claire e Sofia no filme 'Bird Box: Barcelona', de David Pastor e Àlex Pastor. Foto: Lucia Faraig/Netflix - © 2022 Netflix, Inc.
Georgina Campbell e Naila Schuberth como Claire e Sofia no filme 'Bird Box: Barcelona', de David Pastor e Àlex Pastor. Foto: Lucia Faraig/Netflix - © 2022 Netflix, Inc.


O problema é que enquanto Influencer tinha personagens sólidos, uma antagonista interessante e situações desenvolvidas com naturalidade, Bird Box: Barcelona escorrega feio nesses três pontos. Seu vilão é pessimamente construído. Ainda que não fosse, dificilmente alguém torceria por ele, mesmo após a revelação tardia de suas motivações. Também acho pouco provável que alguém se importe com os candidatos a protagonistas, menos por culpa do elenco, e mais porque eles têm um tempo de tela limitado e ganham pouca ou nenhuma atenção do roteiro.

No último ato, quando uma jornada de redenção tardia e desajeitada começa a ser desenhada, meu interesse por Bird Box: Barcelona já havia diminuído consideravelmente. O confronto final pouco empolgante não ajudou a trazê-lo de volta.

Nota: 4/10

Título Original: Bird Box: Barcelona.
Gênero: Ficção científica, mistério, terror.
Produção: 2023.
Lançamento: 2023.
País: Espanha.
Duração: 1 h 52 min.
Roteiro: David Pastor, Àlex Pastor.
Direção: David Pastor, Àlex Pastor.
Elenco: Mario Casas, Georgina Campbell, Diego Calva, Naila Schuberth, Alejandra Howard, Patrick Criado, Celia Freijeiro, Lola Dueñas, Gonzalo de Castro, Michelle Jenner, Leonardo Sbaraglia, Jorge Asin, Abdelatif Hwidar, Manel Llunell, Aina Quiñones, Kotomi Nishiwaki, Milo Taboada, Carolina Meijer, Catalina Fernández, Jorge Kent, Gerard Oms, Eric Balbàs, Alberte Montes, Joana Belmonte, Shaq B. Grant, Ángel Roldán.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

Postar um comentário

Antes de serem publicados, os comentários serão revisados.

Postagem Anterior Próxima Postagem