Retro Review | Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas (The Toolbox Murders, 1978)

Quando o simples poderia ter sido melhor


Arte do filme 'Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas'
Arte do filme de terror 'Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas', de Dennis Donnelly


Em 1977, o produtor Tony Didio ficou impressionado com a boa recepção do relançamento de O Massacre da Serra Elétrica e decidiu que queria um filme de terror de baixo orçamento só seu. Dizem que ele reuniu alguns roteiristas e, enquanto assistia a uma fita do clássico de 1974 dirigido por Tobe Hooper, os encarregou de criar uma variação da história.

Um ano depois, surgia Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas, que de O Massacre da Serra Elétrica não tinha nada. O cenário do interior do Texas foi substituído por um complexo de apartamentos em Los Angeles; no lugar de uma máscara feita com pele humana, o assassino usava uma máscara de esqui; e, em vez de perseguir suas vítimas com uma motosserra, ele usava martelos, chaves de fenda, furadeiras e outras ferramentas guardadas na caixa do título.


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O filme, dirigido por Dennis Donnelly (na época mais conhecido por comandar episódios de séries como Adam-12 e O Homem do Fundo do Mar), parece carregar duas identidades diferentes dentro da mesma projeção. De um lado, um slasher urbano, cru e direto ao ponto, que aposta no choque e na violência gráfica; de outro, um drama psicológico confuso, que tenta adicionar profundidade e termina tropeçando em suas próprias ambições.

Imagem do filme 'Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas'
Os amigos Kent e Joey querem solucionar o mistério por trás de 'Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas'


A primeira metade do filme é surpreendentemente eficaz para os padrões do exploitation setentista. As sequências de assassinato têm impacto imediato, estabelecem o tom com rapidez, e criam uma atmosfera de medo doméstico. Essa abordagem confere um caráter visceral à obra, que poderia ter se mantido firme no território do slasher e conquistado um público fiel por sua simplicidade direta.

O elenco, em especial Cameron Mitchell (Presa Mortal), empresta uma dose de intensidade que ajuda a elevar a experiência. Sua presença ameaçadora dá ao filme uma carga de tensão que compensa as limitações do orçamento e da direção. Ao mesmo tempo, a ambientação em um prédio de apartamentos reforça o caráter claustrofóbico e cotidiano da ameaça, tornando os crimes ainda mais desconfortáveis. É justamente nessa atmosfera que o filme encontra seu ponto mais forte, funcionando como um terror sem floreios.


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A segunda metade opta por mudar de rumo, abandonando o ritmo acelerado dos assassinatos para se concentrar em elementos psicológicos e em uma investigação que nunca sai do lugar — uma tentativa atrapalhada de fazer um aceno aos filmes giallo. O que era direto e impactante se torna arrastado, com diálogos expositivos, subtramas inúteis e tentativas de criar uma camada de complexidade que não se sustenta. Em vez de potencializar o suspense, esse desvio torna a narrativa pesada e irregular.

Kelly Nichols como Dee Ann no filme 'Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas'
Dee Ann (Kelly Nichols) tem seu banho de espuma interrompido no filme 'Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas'


O clímax representa o maior desperdício do filme. A promessa de um desfecho sangrento e tenso se dissolve em um ato final lento, repleto de longos monólogos e explicações que soam artificiais e deslocadas em relação ao que a primeira parte havia construído. Donnelly e seus roteiristas parecem querer oferecer mais do que um filme de terror, mas acabam entregando um final que mina o impacto das mortes iniciais e deixa uma sensação de frustração no espectador.

Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas estreou sem muito barulho. Mas suas cenas de violência contra a mulher — a mais polêmica delas mostra a inquilina interpretada por Kelly Nichols tendo seu banho de espuma interrompido e sendo perseguida nua pelo assassino carregando uma pistola de pregos — acabaram despertando a ira de grupos feministas e de apresentadores de TV, que passaram a fazer campanha contra o filme. A produção inclusive foi parar na lista de video nasties no Reino Unido.

Somando-se a isso o fato de ter sido comercializado como uma dramatização de eventos reais e a uma declaração de Stephen King de que esse era o filme mais assustador já feito, não é surpresa que as pessoas tenham começado a se amontoar nas locadoras para conhecê-lo. Mesmo com uma história que se perde ao tentar oferecer mais do que realmente tinha a capacidade de entregar, Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas acabou se tornando um título cult.


Nota: 4,8/10


Título Original: The Toolbox Murders.

Título Nacional: Os Assassinatos da Caixa de Ferramentas.

Gênero: Terror.

Produção: 1978.

Lançamento: 1978.

País: Estados Unidos da América.

Duração: 1 h 33 min.

Roteiro: Neva Friedenn, Robert Easter, Ann Kindberg.

Direção: Dennis Donnelly.

Elenco: Cameron Mitchell, Pamelyn Ferdin, Wesley Eure, Nicolas Beauvy, Tim Donnelly, Aneta Corsaut, Faith McSwain, Marciee Drake, Evelyn Guerrero, Victoria Perry, Robert Bartlett, Betty Cole, John Hawker, Don Diamond, Alisa Powell, Kelly Nichols, Robert Forward, Kathleen O'Malley, Gil Galvano, James Nolan, George Deaton.


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Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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