Camille Keaton interpreta jovem escritora em busca de vingança no clássico 'A Vingança de Jennifer', do diretor e roteirista Meir Zarchi
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| A atriz Camille Keaton como Jennifer Hills no filme 'A Vingança de Jennifer', de Meir Zarchi |
A Vingança de Jennifer é um filme de suspense/terror sobre uma escritora que é atacada por criminosos e retorna para se vingar. É um dos precursores do rape and revenge, subgênero controverso ligado ao cinema exploitation que teve seu auge nas décadas de 1970 e 1980. Trata-se do longa-metragem de estreia do diretor e roteirista Meir Zarchi, que mais tarde revelou que a ideia para o filme surgiu após ele, um amigo e sua filha socorrerem uma jovem que havia sido vítima de violência sexual.
Histórias sobre estupro e vingança já haviam sido contadas no cinema. Ingmar Bergman fez isso em A Fonte da Donzela (1960). Bo Arne Vibenius também, em Thriller: Um Filme Cruel (1972). No mesmo ano, Wes Craven dirigiu o polêmico Aniversário Macabro, e dois anos depois, Jean Rollin acrescentou elementos sobrenaturais ao subgênero com seu Les démoniaques. A Vingança de Jennifer, porém, criou a estrutura que passou a sustentar a maioria dos filmes que abordaram o tema nos anos seguintes.
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| A atriz Camille Keaton como Jennifer Hills no filme 'A Vingança de Jennifer', de Meir Zarchi |
Camille Keaton, sobrinha-neta de Buster Keaton, interpreta Jennifer Hills, uma jovem aspirante a escritora que se isola em uma cabana próxima de uma pequena comunidade de pescadores. Jennifer busca inspiração para escrever seu primeiro livro, mas sua presença chama a atenção de um grupo de encrenqueiros locais liderados por Johnny (Eron Tabor), o dono do que parece ser o único posto de gasolina das redondezas. Jennifer é atacada e passa momentos de horror nas mãos dos criminosos. Mas ao contrário do que eles pensavam, ela sobrevive e, assim que se recupera, retorna em busca de vingança.
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O filme é dividido em três partes bem distintas. A primeira apresenta os personagens, fornece um pequeno background para cada um e dá pistas discretas sobre o horror que está por vir. A segunda é brutal, e apresenta a cena de estupro mais longa da história do cinema. Ela dura cerca de 25 minutos, e foi uma das razões pelas quais o filme foi banido em diversos países. Na terceira parte, quando Jennifer retorna para iniciar sua vingança, o diretor abraça elementos mais tradicionais de terror, em especial de filmes slashers.
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| Camille Keaton e Eron Tabor como Jennifer e Johnny no filme 'A Vingança de Jennifer', de Meir Zarchi |
O fato de A Vingança de Jennifer ter sido filmado no mesmo local que serviu como cenário para Sexta-Feira 13, Parte 2 (1981), de Steve Miner, reforça o vínculo do filme com o subgênero dos assassinos mascarados. A casa onde ocorrem as cenas mais brutais pertencia a um amigo de Zarchi, que também foi diretor de fotografia do filme. O diretor havia visitado seu colega quando ele estava desenvolvendo o roteiro, e foi influenciado por sua localização.
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A Vingança de Jennifer tem poucos diálogos, e não se aprofunda em discussões morais. A câmera de Zarchi apenas registra a violência, deixando que o expectador tire suas próprias conclusões sobre os eventos horríveis que testemunha. A produção é de baixo orçamento, e seus limites às vezes são bem visíveis. Mas na maior parte do tempo o amadorismo funciona a favor do filme, pois amplia o tom documental e torna a experiência do público ainda mais perturbadora. A ausência de trilha sonora aumenta o grau de realismo.
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| A atriz Camille Keaton como Jennifer Hills no filme 'A Vingança de Jennifer', de Meir Zarchi |
Keaton, escolhida entre 4.000 atrizes que fizeram o teste para o papel principal, entrega uma performance corajosa, protagonizando as cenas mais chocantes de A Vingança de Jennifer. O resto do elenco é formado em sua maioria por atores novatos, mas eles cumprem seu papel sem comprometer a obra. Há inclusive histórias de bastidores que revelam que todos os quatro atores do sexo masculino que interpretam os vilões pediram para aparecer nus no filme, para remover o constrangimento sobre sua própria nudez e para mostrar solidariedade à atriz, que passa grande parte do tempo nua.
A Vingança de Jennifer foi lançado em 1978 com o título de Day of the Woman ('O Dia da Mulher', em tradução literal), e passou quase despercebido nos cinemas. A situação mudou em 1980, quando a obra foi relançada com o título de I Spit on Your Grave ('Eu Cuspo no Seu Túmulo'). Hoje é difícil dizer se o que fez o público lotar os cinemas foi o título agressivo, a campanha publicitária sensacionalista ou a reação furiosa de alguns críticos que, inconformados com a brutalidade do filme, praticamente iniciaram uma campanha contra ele.
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| Camille Keaton e Eron Tabor como Jennifer e Johnny no filme 'A Vingança de Jennifer', de Meir Zarchi |
Um deles, Robert Ebert, escreveu que A Vingança de Jennifer era "doentio, repreensível e despresível", "um saco de lixo vil" e "uma das experiências mais deprimentes da minha vida". Já a feminista britânica Julie Bindel fez piquete ativamente contra o filme quando ele foi lançado no Reino Unido. Mais tarde, ela retratou essa visão, afirmando que agora o considerava "um filme feminista". Apesar de toda a polêmica, a obra de Zarchi acabou se tornando um dos grandes clássicos do cinema de terror.
Mais tarde, A Vingança de Jennifer entrou para o Top 10 dos filmes ridiculamente violentos da revista Time. Em 2010, a atriz Sarah Butler assumiu o papel da nova Jennifer Hills em um remake ainda mais violento dirigido por Steven R. Monroe, que no Brasil ganhou o título de Doce Vingança. Em 2013 Monroe dirigiu Doce Vingança 2, onde a jovem modelo Katie Carter, interpretada por Jemma Dallender, também se vingava de seus agressores.
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| A atriz Camille Keaton como Jennifer Hills no filme 'A Vingança de Jennifer', de Meir Zarchi |
Em 2015 foi lançado Doce Vingança 3: A Vingança é Minha, de R. D. Braunstein, que colocava Butler novamente no papel de Jennifer, aterrorizando novos criminosos. Além dos remakes, a obra polêmica de Zarchi influenciou diversas produções que surgiram nos anos seguintes, e continua influenciando até hoje. American Mary (2013), de Jen e Sylvia Soska, Mulheres Perigosas (2017), de Terry Milis, e Vingança (2018), de Coralie Fargeat, são bons exemplos disso.
Não por coincidência, a protagonista interpretada por Matilda Lutz no filme de Fargeat também se chama Jennifer.
Nota: 8.2/10
Título original: I Spit on Your Grave.
Gênero: Suspense, terror.
Produção: 1978.
Lançamento: 1978.
Pais: Estados Unidos.
Duração: 101 minutos.
Roteiro: Meir Zarchi.
Direção: Meir Zarchi.
Elenco: Camille Keaton, Eron Tabor, Richard Pace, Anthony Nichols, Gunter Kleemann, Alexis Magnotti, Tammy Zarchi, Terry Zarchi, Traci Ferrante, William Tasgal, Isaac Agami, Ronit Haviv.