Uma jovem solitária dos anos 80 faz amizade com um cadáver vitoriano reanimado em 'Lisa Frankenstein', comédia de terror da diretora Zelda Williams.
Kathryn Newton e Cole Sprouse como Lisa e A Criatura no filme 'Lisa Frankenstein'. Foto: © 2023 - Focus Features |
Após entregar Shrimp e Kappa Kappa Die, a cineasta novaiorquina Zelda Williams, filha do icônico Robin Williams, está de volta com Lisa Frankenstein. Este filme, que mistura os gêneros do terror, do romance e da comédia, nos introduz à psique intrincada de uma adolescente desajustada, Lisa, que inicia uma improvável amizade com um cadáver vitoriano reanimado. O roteiro, uma adaptação livre de Frankenstein, de Mary Shelley, é assinado por Diablo Cody, a roteirista do cult clássico Garota Infernal.
O ano é 1989, e a adolescente Lisa (Kathryn Newton, de Abigail) está tentando seguir em frente depois que uma tragédia abalou sua vida. Sua meia-irmã, a líder de torcida Taffy (Liza Soberano, de Alone/Together), está se esforçando para que ela faça novas amizades. Lisa até encontrou um moço bonito por quem se apaixonar, embora pareça estar fadada a atrair a atenção dos rapazes errados após bebedeiras acidentais nas festas coloridas organizadas pelos jovens de sua cidade.
A verdade é que Lisa não tem muito jeito para lidar com pessoas, e o fato de passar boa parte de seu tempo sonhando acordada com um cara morto do século XIX no cemitério abandonado da cidade é um bom indicativo disso. Após uma noite de tempestade, o cara morto (Cole Sprouse, da série Riverdale) aparece em sua casa, aparentemente reanimado pela energia de um raio. Tem início uma jornada para encontrar o amor, a felicidade e algumas partes de corpos desaparecidas pelo caminho.
Liza Soberano e Kathryn Newton como Taffy e Lisa no filme 'Lisa Frankenstein'. Foto: © 2023 - Focus Features |
Lisa Frankenstein começa muito bem, com uma animação que oferece algumas dicas sobre o passado do morto-vivo vitoriano, antes de nos jogar na efervescente década de 1980, onde visuais reminiscentes de ícones oitentistas como Madonna e Cyndi Lauper permeiam a narrativa. A trilha sonora, cuidadosamente selecionada e repleta de clássicos da época, consolida a experiência, imergindo-nos de maneira hábil e nostálgica no universo retrô.
A habilidade direcional de Williams revela-se novamente neste filme por cenas memoráveis, como a tentativa hilária de Lisa de se integrar em uma festa, e o pesadelo da protagonista, que presta homenagem aos clássicos em preto e branco do cinema de terror. Este estilo evoca ocasionalmente o esplendor cinematográfico de Tim Burton, particularmente em obras como Beetlejuice e Edward Mãos de Tesoura, enquanto sutilmente semeia referências a outras delícias como Abracadabra, A Garota de Rosa-Shocking e Mulher Nota 1000.
Com tantas peças funcionando em harmonia, é difícil dizer onde exatamente Lisa Frankenstein começa a sair dos trilhos. Acredito, no entanto, que um dos problemas está na decisão do estúdio de atenuar a classificação indicativa do filme. O roteiro de Cody lida com temas complexos, que acabam perdendo o impacto devido às limitações impostas pelo selo PG-13. A classificação indicativa também limita o potencial visceral das cenas de mortes, apresentadas de maneiras desajeitadamente higienizadas.
Kathryn Newton como Lisa no filme 'Lisa Frankenstein'. Foto: © 2023 - Focus Features |
A ausência de visão periférica de alguns personagens incomoda. A incapacidade de outros de enxergar o que está na frente do próprio nariz, incomoda ainda mais. Lisa Frankenstein ainda sofre com problemas de edição, com algumas cenas se estendendo para além do necessário. Já o elenco, entrega performances notáveis, com destaque para a participação de Carla Gugino (O Quarto Secreto) no papel da madrasta Janete.
Não sou um grande fã do trabalho de Kathryn Newton no slasher Freaky - No Corpo de um Assassino, e menos ainda na comédia Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, mas em Lisa Frankenstein a jovem atriz está realmente bem, exibindo um timing cômico preciso e maneirismos divertidos para compor sua protagonista gótica solitária. Ainda assim, o roteiro escolhe não se aprofundar nas motivações da personagem, e em vários momentos é difícil torcer por ela. Na verdade, na metade final eu torci contra, e me envolvi mais com o drama de sua meia-irmã.
A ausência de explicações sobre os mecanismos que trouxeram o cadáver vitoriano de volta à vida não me incomodou. Já a facilidade como certas situações se resolvem e a ausência de consequências para algumas ações revelou-se um teste para minha suspensão de descrença. Lisa Frankenstein, embora exibindo um inegável potencial, revela-se vítima de suas próprias inadequações, e o desequilíbrio entre a estética visualmente cativante e as limitações impostas pela classificação indicativa prejudica a integridade da experiência cinematográfica.
Nota: 4.9/10
Título Original: Lisa Frankenstein.
Gênero: Comédia, romance, terror.
Produção: 2024.
Lançamento: 2024.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 41 min.
Roteiro: Diablo Cody.
Direção: Zelda Williams.
Elenco: Kathryn Newton, Liza Soberano, Jenna Davis, Trina LaFargue, Paola Andino, Joshua Montes, Chris Greening, Mae Anglim, Joey Harris, Henry Eikenberry, Jennifer Pierce Mathus, Luke Sexton, Ayla Miller, Jailyn Rae, Bryce Romero, Cole Sprouse, Carla Gugino, Joe Chrest.