Crítica | Heart Eyes (2025)

Um assassino mascarado persegue casais no Dia dos Namorados neste slasher sem ousadia ou personalidade, dirigido por Josh Ruben


Heart Eyes: O assassino com olhos de coração não gosta de casais apaixonados
Heart Eyes: O assassino com olhos de coração não gosta de casais apaixonados


Nas décadas de 1970 e 1980, os fãs do subgênero slasher acompanharam o nascimento de vilões que se tornaram ícones da cultura pop. De Michael Myers, que aterrorizava os habitantes de Haddonfield na noite de Halloween, a Jason Voorhees, que picotava adolescentes em acampamentos de verão na franquia Sexta-Feira 13, passando pelo boneco possuído Chucky, de Brinquedo Assassino, até chegar à assombração unhuda Freddy Krueger, de A Hora do Pesadelo, a lista é impressionante.

A partir dos anos 2000, porém, roteiristas e diretores encontraram dificuldades para estabelecer novos ícones do slasher. Acho até seguro dizer que apenas Victor Crowley, de Terror no Pântano, e o palhaço Art, de Terrifier, conseguiram esse feito. Também posso afirmar com convicção que Heart Eyes Killer (ou apenas HEK), o vilão do recém-lançado Heart Eyes, dificilmente alcançará esse status.


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Isso é realmente uma pena, pois o assassino mascarado que ataca no Dia dos Namorados tem um visual memorável. Ele poderia se destacar se o roteiro de Phillip Murphy (Dupla Explosiva 2: E a Primeira-Dama do Crime), Christopher Landon (Freaky: No Corpo de um Assassino) e Michael Kennedy (It's a Wonderful Knife) não fosse tão preguiçoso, ou se o diretor Josh Ruben (Um Lobo Entre Nós) tivesse se entregado à essência do subgênero com a intensidade que ele exige.

Adeline (Lauren O’Hara) percebe que se escondeu no lugar errado no filme de terror 'Heart Eyes'
Adeline (Lauren O’Hara) percebe que se escondeu no lugar errado no filme de terror 'Heart Eyes'. Foto: © CHRISTOPHER MOSS


A cena de abertura de Heart Eyes empolga, misturando com eficiência os elementos de terror e comédia que ditarão o restante do filme. O entusiasmo, porém, dura pouco, desaparecendo assim que conhecemos os protagonistas: Ally (Olivia Holt, de Dezesseis Facadas), uma moça sem carisma e sem namorado, e Jay (Mason Gooding, de Y2K: Bomba-Relógio), igualmente solteiro e tão sem graça quanto ela. Também somos apresentados à amiga Monica (Gigi Zumbado, de Corra, Querida, Corra), que consegue ser ainda mais desinteressante que os dois juntos.

A partir daí, Heart Eyes torna-se um híbrido de comédia romântica e terror pós-moderno, acompanhando os encontros e desencontros de Ally e Jay enquanto a figura vilanesca, apelidada pela mídia de "o assassino com olhos de coração", aterroriza casais em uma Seattle calculadamente diversa, onde todas as posições de poder são ocupadas por mulheres, e os dois únicos homens brancos que recebem algum destaque são retratados como idiotas.


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Deixando de lado essas escolhas forçadas, Heart Eyes tem seus momentos divertidos. A cena em que Ally e Jay se conhecem em uma lanchonete, por exemplo, é tão absurda que chega a ser hilária. O mesmo vale para o diálogo constrangedor — repleto de elogios improvisados e sorrisos falsos — que eles trocam com outro casal na saída de um restaurante, ou para as tentativas de Ally de convencer o assassino de que ela e Jay não estão namorando e, portanto, não deveriam estar em sua lista de potenciais vítimas.

Heart Eyes: aquele momento em que você percebe que há um assassino mascarado escondido no armário
Heart Eyes: aquele momento em que você percebe que há um assassino mascarado escondido no armário


Na maior parte do tempo, porém, a pegada de comédia romântica não só falha, como também sabota as cenas de terror, arruinando o suspense e a tensão que esses momentos exigem. Um bom exemplo disso é a cena em que o casal tenta se esconder do assassino, mas, em vez de demonstrar medo, resolve conversar sobre o passado e fazer piadas tão ruins que envergonhariam até os super-heróis engraçadinhos dos últimos filmes da Marvel. A sensação de ameaça se dissipa ainda mais quando percebemos que Ally e Jay nunca estão realmente em perigo, já que o roteiro sempre inventa uma desculpa para escaparem, independente da gravidade da situação.

As mortes da cena de abertura são bem executadas. Outras duas também, mas, infelizmente, já foram mostradas no trailer. Mesmo se não tivessem sido, essas mortes acontecem já na reta final, e a essa altura eu já estava entediado demais com a falta de ousadia dos realizadores. Presenciar uma constrangedora cena de sexo onde não há sexo e o casal está vestido, não ajudou a mudar minha opinião.

Gostaria de dizer que, ao final, senti vontade de rever O Dia dos Namorados Macabro, o divertido slasher oitentista que também apresenta um assassino mascarado perseguindo casais apaixonados. Mas a verdade é que Heart Eyes é tão genérico e comportadinho que qualquer slasher dos anos 80, mesmo o mais trash, seria suficiente para afastar o gosto amargo deixado por essa experiência.

Nota: 3/10

Título Original: Heart Eyes.
Gênero: Terror, comédia, romance.
Produção: 2025.
Lançamento: 2025.
País: Estados Unidos da América, Nova Zelândia.
Duração: 1 h 37 min.
Roteiro: Phillip Murphy, Christopher Landon, Michael Kennedy.
Direção: Josh Ruben.
Elenco: Olivia Holt, Mason Gooding, Gigi Zumbado, Michaela Watkins, Alex Walker, Lauren O'Hara, Latham Gaines.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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