Crítica | Corra, Querida, Corra (Run Sweetheart Run, 2020)

Ella Balinska interpreta secretária tentando chegar viva em casa após encontro se tornar violento em 'Corra, Querida, Corra', da diretora Shana Feste


Pilou Asbæk e Ella Balinska como Ethan e Cherie no filme 'Corra, Querida, Corra', de Shana Feste
Pilou Asbæk e Ella Balinska como Ethan e Cherie no filme 'Corra, Querida, Corra', de Shana Feste


Quando estreou no Sundance Film Festival em janeiro de 2020, Corra, Querida, Corra tinha uma configuração diferente. Era sobre uma mãe solteira que decide namorar novamente e vê seu encontro às cegas se transformar em um pesadelo. Refilmagens ocorreram no início de 2022 e, na versão final lançada recentemente no Prime Video, a protagonista torna-se uma secretária que participa de um jantar de negócios com um cliente, a pedido do patrão.

Como não assisti, não posso dizer o quanto o corte original abraçava o chamado terror social, ou se o roteiro era sutil o suficiente para transmitir suas mensagens sem que parecessem forçadas. Mas posso dizer que o corte final é quase tão sutil quanto uma tempestade de granizo em uma tarde silenciosa. O resultado, claro, só poderia ser outra tosqueira no nível de Pânico Americano e dos remakes de Natal Sangrento e Slumber Party Massacre.

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A "querida" do título nacional é Cherie (Ella Balinska, de Resident Evil: A Série), uma jovem mãe solteira que aspira a ser advogada, mas atualmente é secretária em um escritório de advocacia comandado por homens opressores. Nós a conhecemos enquanto informa ao RH sobre algum comentário desagradável de um sócio da empresa, apenas para ser rebatida pelo discurso de que a empresa está trabalhando para ser um espaço inclusivo para mulheres como ela.

Ella Balinska como Cherie no filme 'Corra, Querida, Corra', de Shana Feste
Ella Balinska como Cherie no filme 'Corra, Querida, Corra', de Shana Feste


Após cometer um erro de agendamento, Cherie é convencida a ocupar o lugar de seu chefe em uma reunião com um cliente, um homem aparentemente amigável chamado Ethan (Pilou Asbæk, de Operação Overlord). A ligação entre os dois fica mais estreita do que Cherie imaginava, e o encontro no restaurante termina na casa extravagante de Ethan. Nossa heroína não demora para perceber que o rapaz não é tão amigável quanto aparentava.

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O que se segue é uma perseguição pela noite de Los Angeles, com Cherie tentando chegar em casa com vida enquanto tem encontros aleatórios com personagens tão profundos quanto um pires. Balinska faz o que pode com o pouco material que tem para trabalhar, mas o roteiro e a direção trabalham ativamente contra ela, colocando em sua boca diálogos ridículos e jogando-a no meio de situações que deveriam ser tensas, mas acabam provocando risos. O vilão de Asbæk é desinteressante e às vezes beira o caricato. Ele também sofre com o roteiro desajeitado, que tenta criar uma mitologia, mas se esquece de detalhes básicos, como estabelecer regras sobre seu comportamento e seus, digamos, "poderes".

Imagem do filme 'Corra, Querida, Corra', de Shana Feste
Imagem do filme 'Corra, Querida, Corra', de Shana Feste


Com o roteiro raso ofuscando a mensagem que o filme tenta transmitir, e a direção desigual comprometendo o potencial para a tensão, resta torcer para que as cenas de terror sejam pelo menos divertidas. Algumas até são, e preciso elogiar a maquiagem sangrenta bem feitinha. Infelizmente, o filme também tem momentos de "não, isso você não pode ver". E digo isso em um sentido quase literal, pois o vilão tem a mania bizarra de quebrar a quarta parede e impedir que a câmera o acompanhe quando ataca a protagonista.

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Essa decisão esdrúxula é a forma que a diretora Shana Feste (Amor sem Fim) e seus co-roteiristas Keith Josef Adkins e Kellee Terrell encontraram para demonstrar seu descontentamento com a fetichização do sofrimento feminino em filmes de terror. Para reforçar a ideia, eles até providenciam uma versão açucarada da inesquecível cena da boate de A Hora do Espanto e uma piada sem graça sobre O Massacre da Serra Elétrica. Não faço ideia de porque os realizadores acreditaram que seria uma boa ideia incentivar o espectador a comparar seu filme com clássicos absolutos do cinema de terror. O que sei é que a estratégia faz com que Corra, Querida, Corra, pareça mais tosco e pretensioso do que provavelmente é.

Imagem do filme 'Corra, Querida, Corra', de Shana Feste
Imagem do filme 'Corra, Querida, Corra', de Shana Feste


Acredito que essa versão feminista de Depois de Horas funcionaria se a diretora abraçasse de vez o ridículo, pois, do jeito que ficou, tudo no filme parece uma piada que, de tão ruim, acabou sendo levada muito a sério. O thriller de sobrevivência de Feste se firma como um dos piores filmes de terror da Blumhouse lançados em 2022. E considerando que em 2022 a produtora de Jason Blum entregou obras de qualidade no mínimo duvidosas como Chamas da Vingança, They/Them: O Acampamento, Dashcam, Desumano e Halloween Ends, isso é realmente uma proeza.

Nota: 3/10

Título Original: Run Sweetheart Run.
Gênero: Terror, suspense.
Produção: 2020.
Lançamento: 2022.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 44 min.
Roteiro: Shana Feste, Keith Josef Adkins, Kellee Terrell.
Direção: Shana Feste.
Elenco: Ella Balinska, Pilou Asbæk, Clark Gregg, Shohreh Aghdashloo, Dayo Okeniyi, Sagan Rose, Briana Lane, Kaitlyn Raymond, Sigrid Owen, Amar Sotomayor, Amanda Jaros, Amy Doyle, Brandon Molale, Ava Grey, Michael Patrick McGill, Marco Khan, Betsy Brandt, Alex Cacho, Ella James, Lamar Johnson, Manuel Uriza, Jake Allyn, Jess Gabor, Cindera Che, Olivia May, Patrick Chisholm, Peggy Lu, Lynhthy Nguyen, Blake Moya, Carmela Zumbado, Gigi Zumbado, Tara Buck.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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