Crítica | Não Fale o Mal (Speak No Evil, 2024)

O remake da Blumhouse do perturbador thriller dinamarquês é bem mais suave, mas talvez agrade aqueles que nunca assistiram ao original.


James McAvoy interpreta o descontrolado Paddy no remake de 'Não Fale o Mal'.
James McAvoy interpreta o descontrolado Paddy no remake de 'Não Fale o Mal'.


Não Fale o Mal é um remake americano de um thriller dinamarquês que causou muito barulho na época de seu lançamento. O original não entrou para minha lista de melhores filmes lançados em 2023, mas é inegável que o diretor Christian Tafdrup conseguiu entregar uma obra chocante. Enquanto assistia, era tomado por uma sensação de desconforto crescente. O final perturbador ficou grudado em minha mente por um bom tempo.

Não tive a mesma sensação ao assistir a nova versão. O conceito central do casal educado, com uma aversão preocupante à palavra "não", continua presente no remake dirigido por James Watkins (Sem Saída), mas vai se perdendo conforme a história avança. O comentário social é bem mais aberto, enquanto o final perturbador é completamente alterado.

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Com isso, o remake perde muitas das características que tornavam o material original tão único, eficaz e inquietante. Parece mais uma versão alternativa do que uma refilmagem, mas ainda pode agradar, principalmente àqueles que não tiveram contato com a obra de Tafdrup.

Alix West Lefler, Mackenzie Davis e Scoot McNairy como Agnes, Louise e Ben no remake de 'Não Fale o Mal'.
Alix West Lefler, Mackenzie Davis e Scoot McNairy como Agnes, Louise e Ben no remake de 'Não Fale o Mal'.


Os dois primeiros atos seguem as mesmas batidas do original. O casal americano Ben e Louise Dalton, interpretados por Scoot McNairy (País das Fadas) e Mackenzie Davis (Os Órfãos), deixam sua vida monótona em Londres, para onde se mudaram a negócios, e vão tirar merecidas férias na Itália. A filha em idade escolar, Agnes (Alix West Lefler, de A Menina do Mar), os acompanha na viagem.

Os Dalton conhecem e ficam encantados com o despreocupado casal Paddy (James McAvoy, de Fragmentado) e Ciara (Aisling Franciosi, de Drácula - A Última Viagem do Demeter), que também estão curtindo as férias na Itália na companhia do filho com problemas de comunicação, Ant (Dan Hough, da série Hollyoaks). O encanto é tamanho que eles aceitam o convite para passar um final de semana na fazenda de Paddy e Ciara.

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O que começa com a promessa de alguns dias de vida saudável no campo transforma-se lentamente em um pesadelo. Mas não um pesadelo tão sufocante quanto o original. A construção da tensão é bem mais leve. Tanto que me peguei rindo de situações, reações de personagens e diálogos que me deixavam desconfortável no filme dinamarquês.

James McAvoy e Aisling Franciosi como Paddy e Ciara no remake de 'Não Fale o Mal'.
James McAvoy e Aisling Franciosi como Paddy e Ciara no remake de 'Não Fale o Mal'.


Parte de meu conforto provavelmente vem do fato de que sabia, mesmo que inconscientemente, que uma produtora como a Blumhouse, conhecida por seus filmes de terror comportadinhos, não ousaria traumatizar seu público com um final tão medonho. A outra parte vem da performance de James McAvoy, que parece estar se divertindo bastante no papel do vilão.

O lado ruim de seu vilão exagerado é que ele passa longe de ser tão assustador quanto o Patrick do filme original. Mas não dá para culpá-lo, já que momentos realmente assustadores foram removidos do remake. Mostrar o vilão entrando no banheiro em momentos inapropriados, por exemplo, não é permitido aqui. Cenas de voyeurismo, também não. Mas tanto faz, porque as cenas de nudez também foram eliminadas.

O resto do elenco brilha em igual intensidade. Inclusive as crianças, que ganham muito mais destaque e são responsáveis pela virada que coloca Não Fale o Mal em um caminho completamente oposto do original. De um exame violento e impiedoso sobre os perigos das sutilezas sociais, Não Fale o Mal torna-se um thriller de sobrevivência com ecos de Sob o Domínio do Medo, o clássico de 1971 dirigido por Sam Peckinpah.

A família Dalton percebe que excesso de educação pode ser fatal no remake de 'Não Fale o Mal'.
A família Dalton percebe que excesso de educação pode ser fatal no remake de 'Não Fale o Mal'.


O personagem de Scoot McNairy inclusive ganha algumas características do de Dustin Hoffman em Sob o Domínio do Medo. Mas não fique muito animado, pois a intenção não é mostrar o personagem de McNairy agindo como idiota para depois presenteá-lo com seu momento Straw Dogs. Pelo contrário, ele continua agindo como uma barata tonta durante todo o ato final. Inexplicavelmente, o vilão de McAvoy também se torna um trapalhão.

O downgrade nos personagens masculinos não chega a ser tão descarado quanto em outros filmes recentes, como o fraco O Lobo Viking e o horrível Unwelcome, mas a credibilidade de Não Fale o Mal sai bastante arranhada. Isso é realmente uma pena, pois todos estavam sendo bem construídos, e o elenco excepcionalmente bom merecia uma conclusão menos preguiçosa para seus personagens.

Nota: 5.5/10

Título Original: Speak No Evil.
Gênero: Drama, terror, suspense.
Produção: 2024.
Lançamento: 2024.
País: Estados Unidos da América, Croácia, Canadá.
Duração: 1 h 50 min.
Roteiro: James Watkins.
Direção: James Watkins.
Elenco: James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy, Aisling Franciosi, Alix West Lefler, Dan Hough, Kris Hitchen, Motaz Malhees, Jakob Højlev Jørgensen.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

1 Comentários

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  1. O filme até entrega tensão e cenas chocantes, mas não se destaca como algo memorável... Inclusive pode decepcionar quem busca a profundidade da versão dinamarquesa.

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