Crítica | A Hora do Mal (Weapons, 2025)

Um terror B divertido disfarçado de filme sério dirigido por Zach Cregger


Imagem do filme 'A Hora do Mal'
Pesadelos assustadores com crianças desaparecidas bem maquiadas fazem parte da rotina dos personagens de 'A Hora do Mal'. Foto: © 2024 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.


Zach Cregger consolidou-se como um nome curioso dentro do cinema de terror contemporâneo. Ele tem a habilidade de equilibrar ideias absurdas com um ar de seriedade que, de algum modo, convence tanto os fãs de produções trash quanto a crítica mais exigente. Em A Hora do Mal, seu novo trabalho, essa fórmula reaparece, mas em tom ainda mais ousado, com direito a homenagens ao cinema B dos anos 80 escondidas sob uma narrativa aparentemente “respeitável”.

Essa não é uma abordagem nova no terror moderno. David Bruckner e James Wan já a usaram no horror cósmico O Ritual (2017) e no giallo moderno Maligno (2021), respectivamente. Ti West também seguiu essa linha no slasher X – A Marca da Morte (2022). Curiosamente, essas três obras foram escolhidas pela STB como os melhores filmes de terror nos anos em que foram lançadas.


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A Hora do Mal não chega a tanto. Mas funciona muito melhor que o filme anterior de Cregger, o superestimado Noites Brutais (2022). O ponto de partida é instigante: em uma pequena cidade, 17 crianças simplesmente desaparecem na mesma madrugada. Todas acordaram às 2h17, saíram correndo de casa e se perderam na escuridão, sem deixar rastros. Cregger não perde tempo em preparar o terreno, jogando o público de imediato nesse mistério, que já nasce com ares de lenda urbana.

Josh Brolin como Archer no filme 'A Hora do Mal'
Archer (Josh Brolin) é um dos pais desesperados de 'A Hora do Mal'. Foto: © 2024 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.


A narrativa é guiada pela voz de uma criança, escolha que dá ao diretor duas vantagens: de um lado, evita que o excesso de informações pareça expositivo; de outro, planta no espectador a dúvida sobre a confiabilidade daquilo que está sendo contado. Afinal, será que estamos vendo os fatos como eles realmente aconteceram, ou apenas como foram compreendidos por alguém limitado pela inocência, ou pela imaginação?

O filme então se fragmenta em múltiplos pontos de vista. Justine, a professora interpretada por Julia Garner (Apartamento 7A), vive o peso de ser acusada pelos pais de envolvimento no desaparecimento das crianças, já que todas eram alunos de sua classe. Archer (Josh Brolin, de O Homem Sem Sombra), um dos pais, personifica a angústia da comunidade em busca de respostas. E há Alex (Cary Christopher, da série Estação 19), o único estudante da turma de Justine que permaneceu, e cuja sobrevivência acaba se tornando um mistério por si só.


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Essa estrutura de múltiplas perspectivas é ao mesmo tempo interessante e problemática. Se, por um lado, amplia o alcance da trama e dá espaço para diferentes leituras, por outro pode tornar o andamento arrastado, como acontece na participação do policial Paul (Alden Ehrenreich, de O Urso do Pó Branco), cuja subtrama à primeira vista parece pouco relevante. É só com James (Austin Abrams, de As Garotas da Tragédia), meu personagem favorito, que a narrativa retoma o fôlego, conduzindo o filme para territórios mais estranhos e deliciosamente imprevisíveis.

Austin Abrams como James no filme 'A Hora do Mal'
James (Austin Abrams) está assustado após um estranho encontro na floresta em 'A Hora do Mal'. Foto: © 2024 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.


Cregger brinca com as expectativas do público, flertando com a seriedade de um thriller investigativo apenas para, em seguida, abraçar o absurdo. O personagem Marcus (Benedict Wong, de Aniquilação) simboliza essa virada, trazendo o terror de volta à superfície após um meio-termo que quase abandona o gênero. É nesse ponto que a produção mostra suas garras e assume, sem pudores, o espírito de um autêntico terror B.

O resultado é desigual, mas recompensador. Há momentos em que o filme parece preso em sua própria estrutura, repetindo situações ou retardando avanços, mas o terceiro ato explode em criatividade caótica, lembrando ao espectador que está diante de um cineasta disposto a arriscar, ainda que nem sempre acerte.

A Hora do Mal não tem o impacto de um clássico instantâneo, mas confirma que Zach Cregger é um diretor que sabe brincar com as fronteiras do gênero. É um filme que diverte, surpreende e, acima de tudo, não tem medo de se mostrar esquisito. Pode não agradar a todos, mas certamente conquista quem sabe reconhecer o charme inconfundível do terror B disfarçado de cinema sério.


Nota: 7.3/10


Título Original: Weapons.

Título Nacional: A Hora do Mal.

Gênero: Terror.

Produção: 2025.

Lançamento: 2025.

País: Estados Unidos da América.

Duração: 2 h 8 min.

Roteiro: Zach Cregger.

Direção: Zach Cregger.

Elenco: Julia Garner, Josh Brolin, Alden Ehrenreich, Austin Abrams, Cary Christopher, Benedict Wong, Amy Madigan, Scarlett Sher, Jason Turner, Anny Jules, Ali Burch, Michael Gene Conti, Eric Jepson, Whitmer Thomas, Callie Schuttera, June Diane Raphael, Ronny Mathew.



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Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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