Uma família problemática é atormentada por um objeto sobrenatural em 'O Jogo da Invocação', de Eren Celeboglu e Ari Costa
O ator Maclean Fish como o líder dos puritanos no filme 'O Jogo da Invocação', de Eren Celeboglu e Ari Costa |
O Jogo da Invocação, o longa-metragem de estreia dos diretores Eren Celeboglu e Ari Costa, começa flertando com duas obras que os fãs de filmes de terror reconhecerão de longe. Há uma família problemática cujos membros parecem uma versão light da família Myers de Halloween - O Início. Há um objeto sobrenatural que um menino encontra e trata de levar para casa, exatamente como em A Morte do Demônio: A Ascensão.
Com inspirações tão fortes, é natural esperar por um passatempo sangrento e divertido. E é igualmente frustrante constatar que os diretores não conseguem entregar nem uma coisa e nem outra. Diferente do filme de Rob Zombie, onde cada membro da família tem uma personalidade marcante, em O Jogo da Invocação todos deixam a sensação de serem apenas atores brincando de família problemática. Diferente do banho de sangue de Lee Cronin, falta ousadia e imprevisibilidade em todas as cenas, e a sensação de perigo é quase nula.
Natalia Dyer, mais conhecida como a Nancy Wheeler da série Stranger Things, lidera o elenco como Billie, filha única da família Fletcher, que precisa lutar para sobreviver a uma noite infernal quando o objeto sobrenatural citado no primeiro parágrafo começa a aprontar das suas. Primeiro ele possui seu irmão mais novo, Jonah (Benjamin Evan Ainsworth, de A Maldição da Mansão Bly). Depois, toma conta do irmão mais velho, Marcus (Asa Butterfield, de O Lobisomem), que começa a matar todo mundo após forçá-los a jogar versões horríveis e mortais de brincadeiras infantis.
Natalia Dyer e Laurel Marsden como Billie e Sophie no filme 'O Jogo da Invocação', de Eren Celeboglu e Ari Costa |
Os personagens não têm um mínimo de carisma. Isso não se estende apenas aos irmãos, mas também ao namorado de Billie, Pete (Kolton Stewart, de Desencanada), à melhor amiga Sophie (Laurel Marsden, de O Exorcista do Papa) e àqueles jovens desanimados que participam da festa no celeiro. Falando na festa no celeiro, ela é tão sonolenta que faz as festas de Ma parecerem agitadas. Mas pelo menos a reunião dos jovens rende algumas mortes que ajudam a quebrar a monotonia.
Essas cenas fazem parte de uma versão demoníaca da brincadeira de esconde-esconde, que basicamente coloca o rapaz possuído carregando uma faca, procurando suas vítimas em lugares aleatórios em uma fazenda. Também gostei da única cena relacionada à brincadeira da forca. O resto dos jogos infernais não são lá muito empolgantes, e o fato das regras nunca serem muito claras não ajuda a reverter a situação.
A matança se passa em Salem, cidade costeira histórica no Condado de Essex, Massachusetts, mesmo local que foi palco dos infames julgamentos das bruxas de 1692. O objeto sobrenatural que abre as portas do inferno no filme inclusive tem ligação com o passado da cidade, conforme revelado em flashbacks que trazem à tona lembranças de dois outros filmes: Sexta-Feira 13 e Rua do Medo: 1666 - Parte 3.
Imagem do filme 'O Jogo da Invocação', de Eren Celeboglu e Ari Costa |
Isso nos leva a um ato final muito fraco, com direito a inserção de aparições fantasmagóricas que, provavelmente, provocarão mais risos do que sustos. O filme sofre novamente com a falta de cuidado na criação das regras que ajudem o espectador a entender o comportamento e os pontos fracos da entidade demoníaca que persegue os adolescentes. Ao invés disso, o roteiro fica martelando o que já estava óbvio, esvaziando boa parte do impacto das ações do presente.
Acredito que O Jogo da Invocação seria um filme melhor se tivesse abraçado o trash com gosto. Ou talvez se os realizadores deixassem os elementos sobrenaturais de lado e se concentrassem em entregar apenas um slasher. Do jeito que ficou, é mais um caso de potencial desperdiçado.
Nota: 2/10
Título Original: All Fun and Games.
Gênero: Terror, suspense.
Produção: 2023.
Lançamento: 2023.
País: Estados Unidos da América, Reino Unido, Canadá.
Duração: 1h 16m.
Roteiro: J.J. Braider, Eren Celeboglu, Ari Costa.
Direção: Eren Celeboglu, Ari Costa.
Elenco: Asa Butterfield, Natalia Dyer, Benjamin Evan Ainsworth, Laurel Marsden, Annabeth Gish, Marina Stephenson Kerr, Kolton Stewart, Erik Athavale, Matthew Lupu, Sydney Sabiston, Summer H. Howell, Keishon Joseph, Logan Creran, Zoe Fish, Annelise Pollmann, Maclean Fish, Shylo Molina, Eva Ariel Binder, Frederick Allen.