Embora não tenha sido um dos melhores anos para o cinema de terror, 2023 apresentou surpresas agradáveis. Nós separamos as melhores e colocamos em ordem para formar a nossa lista dos melhores do ano. Confira:
10 - Birth/Rebirth
Marin Ireland como Rose no filme 'Birth/Rebirth', de Laura Moss |
Birth/Rebirth conta a história de Celie Morales, uma enfermeira que começa a desconfiar do comportamento suspeito de sua colega de trabalho, a médica patologista Rose Casper. Ela acaba descobrindo que Rose não apenas tem um laboratório de cientista louca improvisado em casa, mas também está dispensando tempo e energia consideráveis em um experimento que visa reanimar os mortos.
Birth/Rebirth coloca no mesmo tubo de ensaio elementos de Frankenstein, de Re-Animator e de Gêmeos - Mórbida Semelhança, com um toque feminino e discussões sutis sobre temas complexos. O resultado é um drama de terror fascinante, que se torna ainda mais interessante quando cosideramos que este é o primeiro longa-metragem da diretora Laura Moss, também co-autora do roteiro.
Mesmo nunca abrançando os tropos de filmes de monstros, Birth/Rebirth tem momentos chocantes. O elenco dá um show à parte, com Judy Reyes entregando uma enfermeira calorosa e compassiva, e Marin Ireland entregando momentos hilários como a médica alarmantemente anti-social que, como Victor e Herbert West, está convencida de que a morte é apenas o começo.
9 - Candy Land
Imagem do filme 'Candy Land', de John Swab. Foto: Roxwell Films / Quiver Distribution |
O novo filme do diretor John Swab joga suas lentes para o lado das lot lizards, profissionais do sexo que trabalham em paradas de caminhões, mais precisamente em uma das saídas da Rota 66 conhecida como Candy Land.
O que começa como um registro da rotina dessas mulheres, toma um rumo inesperado quando elas acolhem uma jovem chamada Ramy, abandonada na parada de caminhões por um grupo de religiosos que aguarda pelo fim do mundo. A situação fica definitivamente preocupante quando um assassino misterioso começa a espalhar corpos pelo chão.
Candy Land transita entre o drama e o mistério, temperados com doses de exploitation dignas dos filmes do cinema grindhouse. Na reta final, o terror retrô de Swab vira um slasher com contagem de corpos elevada e pelo menos duas cenas onde o gore impressiona.
Todo o elenco faz um trabalho competente, mas é Olivia Luccardi quem rouba a cena como a garota aparentemente inocente dividida entre suas crenças e a inesperada gentileza de suas novas amigas.
8 - Frio nos Ossos (Little Bone Lodge)
Joely Richardson e Harry Cadby como mãe e Matty no filme 'Frio nos Ossos', de Matthias Hoene |
Frio nos Ossos começa abraçando clichês que os fãs de longa data do subgênero home invasion reconhecerão de longe. Há uma família um pouco suspeita que vive isolada em uma área rural. Há dois irmãos um pouco suspeitos que batem à porta em busca de ajuda.
O roteiro de Neil Linpow brinca com nossas espectativas por um bom tempo, enquanto a direção segura de Matthias Hoene cria tensão a partir de situações simples. Quando a verdadeira ameaça é revelada, o filme mergulha em um turbilhão de violência e body horror. E, claro, muitas reviravoltas que certamente deixarão o público casual impressionado.
Mesmo que algumas revelações desafiem o limite de nossa suspensão de descrença, Frio nos Ossos é bem dirigido e seu roteiro tem uma capacidade impressionante de se reinventar, mesmo quando todas as cartas parecem ter sido colocadas na mesa. Isso sem contar as boas atuações, com destaque para Joely Richardson como a matriarca disposta a tudo para proteger a família das ameaças do mundo exterior.
7 - Feriado Sangrento (Thaksgiving)
Imagem do filme 'Feriado Sangrento', de Eli Roth |
O novo filme de terror do diretor do ótimo O Albergue, Eli Roth, nos leva para a pequena cidade de Playmouth, Massachusetts, onde uma promoção da Black Friday não termina muito bem. Na verdade, termina muito mal, com alguns corpos espalhados pelo chão da loja de departamentos Right Mart. Um ano depois, a loja se prepara para uma nova promoção, mas um assassino mascarado surge para se vingar dos que julga responsáveis pela tragédia do ano anterior.
Feriado Sangrento é baseado no trailer falso de 2007, que fazia parte do Projeto Grindhouse, de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez. Comparado com o material original, o filme pode parecer decepcionante. Boa parte das cenas que chamaram a atenção foram eliminadas. Outras, como a da cheerleader, foram substituídas por versões mais comportadas. A vibe de filme exploitation também se perdeu, sendo substituída por um clima mais próximo dos slashers da era pós-Pânico.
Ainda assim, Feriado Sangrento consegue ser muito melhor do que a esmagadora maioria dos slasher atuais. O ritmo é fluído, há uma boa contagem de corpos, e algumas mortes sangrentas são realmente memoráveis. Destaque para o medonho jantar de Ação de Graças apresentado no último ato, e para o confronto final, com direito a revelação da identidade do vilão e pistas que apontam para a possibilidade de uma sequência.
6 - God is a Bullet
Maika Monroe e Nikolaj Coster-Waldau como Case e Bob no filme 'God Is a Bullet', de Nick Cassavetes. Foto: © Patriot Pictures |
O novo filme do diretor John Cassavetes conta a história de Bob Hightower, um detetive de polícia pacato e religioso que decide quebrar algumas regras para resgatar a filha de 14 anos, Gabi, sequestrada por uma seita demoníaca. Para isso, ele terá que se unir a Case Hardin, a única vítima que conseguiu escapar da seita.
God is a Bullet mistura ingredientes de filme policial, road movie, arthouse e terror, temperados com cenas de violência extrema, confrontos insanos e muito gore. Nikolaj Coster-Waldau e Maika Monroe brilham do início ao fim, entregando protagonistas fascinantes. Nomes como Jonathan Tucker, Karl Glusman e Jamie Foxx fazem participações especiais, igualmente convicentes em seus papeis.
Destaque para a batalha à luz de fogos de artifício, com gostinho de filme B setentista. E para o confronto final entre Case e Cyrus, que pode até ser espalhafatoso, mas também é insanamente divertido.
5 - Pânico 6 (Scream VI)
Samara Weaving como Laura no filme 'Pânico VI', de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett. Foto: Paramount Pictures |
Após os eventos sangrentos de Pânico (5), as irmãs Sam e Tara se mudaram para Nova York na companhia dos também irmãos Chad e Mindy. Eles querem recomeçar a vida, longe dos holofotes e das lembranças traumáticas da cidade de Woodsboro, mas não demora até que um novo assassino vista o manto de Ghostaface e inicie um novo massacre.
Novamente dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, realizadores do filme anterior, Pânico VI se destaca por seu vilão, com visual reformulado e uma vontade de matar ainda mais evidente que nos outros filmes. Também se destaca pelas cenas sangrentas, e pela decisão dos roteiristas de deixar a metalinguagem em segundo plano para se concentrar na matança, aproximando o filme da fórmula de um slasher tradicional.
Melissa Barrera e Jenna Ortega estão bem como as irmãs em apuros, e os fãs da franquia ficarão felizes em saber que a personagem Kirby Reed, interpretada por Hayden Panettiere, está de volta como uma agente do FBI que investiga os assassinatos cometidos pelo novo Ghostface. De quebra, temos uma participação especial de Samara Weaving, a estrela de Casamento Sangrento, que rouba o show no papel da professora Laura Crane.
4 - O Mal Que Nos Habita (When Evil Lurks / Cuando acecha la maldad)
Imagem do filme 'O Mal Que Nos Habita', de Demián Rugna. Foto: Shudder |
O argentino-americano O Mal Que Nos Habita é um dos filmes de terror mais perturbadores do ano. E isso nem chega a ser uma surpresa, já que saiu da mente de Demián Rugna, o homem por trás do genuinamente arrepiante Aterrorizados, de 2017.
O filme segue Pedro e Kimmy, dois irmãos tentando lidar com um caso de possessão em um vilarejo argentino remoto. Seus esforços acabam piorando as coisas, dando início a eventos medonhos com potencial para desencadear uma catástrofe de proporções monumentais.
O Mal Que Nos Habita apresenta momentos de terror impressionantes, choques gráficos de gelar a espinha e uma narrativa imprevisível. O filme dá um fôlego novo ao gênero de possessão demoníaca e, se não fosse por seu final morno, certamente estaria em uma posição ainda melhor na lista dos melhores do ano.
3 - Fale Comigo (Talk to Me)
A atriz Sophie Wilde como Mia no filme 'Fale Comigo', de Danny e Michael Philippou. Foto: © A24 |
Longa-metragem de estreia dos irmãos Danny e Michael Philippou, Fale Comigo narra a assustadora história de Mia, uma jovem de 17 anos que deseja entrar em contato com o espírito de sua mãe. Ela terá essa oportunidade ao participar de uma "festa de possessão", brincadeira macabra que se tornou febre entre os jovens de Adelaide, na Austrália. Porém, as consequência desse jogo, que envolve uma mão embalsamada, serão trágicas para todos os envolvidos.
Fale Comigo impressiona já na cena de abertura, que demonstra o talento dos irmãos Philippou com a câmera. O filme continua surpreendendo, apresentando personagens que se parecem e se comportam como jovens. Quando as cenas de terror começam, os diretores aceleram, oferecendo imagens adequadamente horríveis e alguns sustos genuínos.
Todo o elenco faz um trabalho elogiável, com destaque para Sophie Wilde, que confere diversas camadas à sua personagem atormentada enquanto o roteiro faz comentáros sobre vícios, luto e os danos que nossas escolham podem infligir àqueles que amamos.
2 - A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead Rise)
A atriz Alyssa Sutherland como Ellie no filme 'A Morte do Demônio: A Ascensão', de Lee Cronin |
Novo capítulo da icônica franquia de terror iniciada por Sam Raimi, A Morte do Demônio: A Ascensão troca o cenário da cabana na floresta pelo de um prédio decadente em Los Angeles. A ameaça, porém, continua a mesma: forças sobrenaturais malignas capazes de possuir os vivos.
Quem terá que lidar com o pesadelo distorcido desta vez é uma família formada pela tatuadora Ellie e seus três filhos, Danny, Bridget e Cassie. Mas é a técnica de guitarra Beth, irmã de Ellie, quem lutará para salvar os sobrinhos enquanto pedaços de corpos desmembrados e galões de sangue falso voam para todos os lados.
A Morte do Demônio: A Ascensão se mantém fiel ao clima anárquico e ao humor sombrio que sempre marcaram a franquia. De quebra, abre muitas possiblidades para futuros filmes, sugerindo que existem não apenas um, mas três Livros dos Mortos, cada um capaz de invocar forças sobrenaturais diferentes.
Ponto para o diretor e roteirista Lee Cronin, que conduz tudo com um cuidado impressionante. E para o elenco para lá de carismático, que entrega personagens para os quais dá gosto torcer.
1 - Isolamento Mortal (Sick)
Gideon Adlon como Parker no filme 'Isolamento Mortal', de John Hyams. Foto: Peacock |
Um slasher dirigido pelo diretor de Sozinha, John Hyams, e co-escrito pelo roteirista de Pânico, Kevin Williamson? É difícil imaginar como algo assim poderia dar errado e, de fato, o filme dá muito certo.
Isolamento Mortal nos leva para uma casa de lago elegante na companhia das melhores amigas Parker e Miri. Elas não estão lá para se divertir, mas para se isolar durante os dias incertos da pandemia de COVID-19. O que Parker e Miri não sabem é que as máscaras e o distanciamento social não poderão salvá-las de um assassino que irá perseguí-las durante o filme inteiro.
O slasher pandêmico demora um pouco para pegar embalo, mas quando pega, a ação não pára mais. Além de perseguições intensas, mortes sangrentas e muita tensão, oferece uma reviravolta que provavelmente pegará muitos de surpresa. O filme lida com temas delicados, sem nunca parecer cansativo ou passar a sensação de que está tentando nos enfiar mensagens sociais goela abaixo. Como se não bastasse, apresenta uma personagem polêmica, mas com carisma e atitude suficientes para se firmar como a final girl mais interessante do ano.
Tudo isso faz de Isolamento Mortal o melhor filme de terror lançado em 2023.