Crítica | A Hora do Vampiro (Salem's Lot, 2024)

Um autor descobre que sua cidade natal está sendo atormentada por vampiros nesta adaptação um tanto atropelada, mas surpreendentemente divertida, do livro de 1975 de Stephen King.


'A Hora do Vampiro', de Gary Dauberman: se o crucifixo brilhar, pode ter certeza quem tem vampiro por perto.
'A Hora do Vampiro', de Gary Dauberman: se o crucifixo brilhar, pode ter certeza quem tem vampiro por perto. Foto: © Max


Após anos de espera, A Hora do Vampiro finalmente chega ao streaming Max, trazendo de volta o terror que marcou o início da carreira de Stephen King. Sob a direção de Gary Dauberman, co-roteirista de It: A Coisa e diretor de Annabelle 3: De Volta Para Casa, o filme é a terceira adaptação de Salem's Lot (1975), uma das obras mais icônicas de King. Embora apresente muitos tropeços, o longa oferece bastante diversão para os fãs de vampiros e do terror à moda antiga.

Lewis Pullman (Os Estranhos: Caçada Noturna) interpreta Ben Mears, um escritor moderadamente bem-sucedido que retorna à sua cidade natal, Salem's Lot, para confrontar fantasmas do passado e buscar inspiração para seu próximo livro. Essas intenções logo ficam em segundo plano quando ele conhece Susan Norton (Makenzie Leigh, de A Assistente). E, convenhamos, é difícil culpá-lo, pois Susan é realmente encantadora.


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Ok, admito que tendo a me encantar por qualquer personagem feminina que ostente um penteado similar ao de Barbara Crampton no clássico Re-Animator. De qualquer forma, passamos o primeiro ato de A Hora do Vampiro acompanhando o casal, enquanto somos apresentados a outros moradores de Salem's Lot e percebemos que há algo muito estranho acontecendo na cidade.

Lewis Pullman e Makenzie Leigh como Ben e Susan no filme 'A Hora do Vampiro'.
Lewis Pullman e Makenzie Leigh como Ben e Susan no filme 'A Hora do Vampiro'. Foto: © Max.


A partir do segundo ato, também dá para perceber que o filme sofre de sérios problemas estruturais. A curta duração parece ter forçado cortes em subtramas importantes, criando lacunas que os fãs do livro ou das adaptações anteriores vão notar. Não há tempo para desenvolver adequadamente os personagens, e algumas tramas são simplesmente abandonadas. Além disso, tanto as revelaões quanto a transição dos habitantes comuns para caçadores de vampiros acontecem de forma abrupta, prejudicando a imersão.

A boa notícia é que metáforas políticas e palestras sobre problemas sociais também não têm vez em A Hora do Vampiro, deixando o diretor livre para compensar os burados do roteiro com momentos de puro entretenimento. O caos em Salem's Lot começa quando Ben e Susan enfrentam o que parece ser um ataque de vampiro — não o vampiro glamoroso de Anne Rice, mas o morto-vivo mais clássico, muito mais próximo da descrição do foclore rural.


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Assim como o livro e as adaptações anteriores, o novo A Hora do Vampiro também aproveita bastante a mitologia de Drácula (1897), de Bram Stoker. Em alguns momentos, abraça elementos de A Família do Vurdalak (1839), de Aleksei Tolstoi, sobre um vampiro que retorna para casa para se alimentar do sangue de seus entes queridos.

Lewis Pullman, Makenzie Leigh e Bill Camp como Ben, Susan e Matt no filme 'A Hora do Vampiro'
Lewis Pullman, Makenzie Leigh e Bill Camp como Ben, Susan e Matt no filme 'A Hora do Vampiro'. Foto: © Max.


O visual das criaturas é simples, mas eficaz. Além das presas afiadas, os mortos-vivos de Dauberman têm olhos brilhantes, o que facilita para o espectador localizá-los no escuro — embora seus poderes de voo e teletransporte como névoa façam com que os personagens raramente os percebam. O vilão Barlow, interpretado por Alexander Ward (Terror no Estúdio 666), recebe uma repaginada visual, mas mantém parte da essência da criatura apresentada na versão de 1979.

Essa abordagem, com um toque de cinema B oitentista, funciona surpreendentemente bem. Até mesmo elementos que poderiam parecer bregas, como o crucifixo que brilha na presença de um vampiro, acabam rendendo momentos inesperadamente divertidos. A cena da batalha no necrotério, cheia de humor negro, é um ótimo exemplo disso.

Mesmo com desenvolvimento limitado, os personagens principais conseguem cativar. Além do casal vivido por Pullman e Leigh, Bill Camp (Som da Liberdade) se destaca como Matt Burke, um professor com vasto conhecimento sobre o folclore dos vampiros. Alfre Woodard (Annabelle), por sua vez, está hilária como a Dra. Cody, médica cética que acaba se envolvendo na confusão do além túmulo e protagoniza alguns dos diálogos mais engraçados do filme.

'A Hora do Vampiro', de Gary Dauberman: lembram que eu falei do crucifixo brilhando? Pois é
'A Hora do Vampiro', de Gary Dauberman: lembram que eu falei do crucifixo brilhando? Pois é. Foto: © Max.


O elenco mirim impressiona nas cenas de terror. E o roteiro não poupa as crianças, criando momentos particularmente cruéis. Jordan Preston Carter (Verdade e Honra) aproveita a oportunidade para roubar a cena como Mark Petrie, um implacável caçador de vampiros mirim que protagoniza alguns dos momentos mais intensos do filme, incluindo a batalha final, onde Dauberman faz excelente uso de luzes e sombras para intensificar a tensão.

Se você busca uma história mais coesa, recomendo a versão de 1979, que é mais fiel ao livro de King. Porém, se conseguir relevar as falhas estruturais, o novo A Hora do Vampiro oferece uma experiência divertida e, em muitos momentos, memorável. Longe de ser perfeito, mas com sua simplicidade e celebração do terror old school, o filme consegue seu lugar ao sol (ou, nesse caso, ao luar) entre as produções de horror deste ano.

Nota: 6.8/10

Título Original: Salem's Lot.
Gênero: Terror, suspense.
Produção: 2024.
Lançamento: 2024.
País: Estados Unidos da América.
Duração: 1 h 53 min.
Roteiro: Gary Dauberman.
Direção: Gary Dauberman.
Elenco: Lewis Pullman, Makenzie Leigh, Jordan Preston Carter, Alfre Woodard, Bill Camp, John Benjamin Hickey, Nicholas Crovetti, Spencer Treat Clark, Pilou Asbæk, Alexander Ward, Danielle Perry, Debra Christofferson, William Sadler, Timothy John Smith, Mike Kaz, Cade Woodward, Joseph Marrella, Declan Lemerande, Oliver Dauberman, Rebecca Gibel, James Milord, Fedna Jacquet, Marilyn Busch, Michael Steven Costello, Avery Bederman, Derek Mears, Jim Patton, Kellan Rhude, Sage Rudnick, Anna Rizzo, Celeste Oliva, Fred Robbins.

Ed Walter

Criador da 'Sangue Tipo B' e escritor na comunidade de filmes de terror desde 2017. Apaixonado por filmes de terror dos anos 70 e 80. Joga 'Skyrim' até hoje.

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